Diz o Marcelo que perceber aquilo que se tem de bom no viver é um dom. E perceber vai além dos sentidos, muito além do que se vê. Existem habilidades que precisam ser praticadas, partilhadas, vividas, uma delas é essa capacidade bonita e delicada de perceber.
Perceber que cantar em uníssono a poesia que lava a sua alma nos momentos de solidão é própria água com açúcar que servimos ao coração. É um coro raro porque não sabemos o que motiva a cantar os outros cantores. O que sabemos é dos próprios momentos de estar só, e de estar só, acredito eu, todo mundo sabe um pouco, senão, não seria esse o tema das canções que tanto nos tocam.
Eu tinha 11 anos a primeira vez que fiz o que era necessário para ver uma banda tocar ao vivo uma música que tocava dentro de mim e me aquecia. Essa música já falava de solidão e pedia que a espera por aquela que faz chorar, não fosse em vão. Los Hermanos gravou o Ritmo da Chuva com a Fernanda Takai, e com 24, continuo colocando essa faixa para tocar mais de uma vez seguida. Mas com 11 anos esperava coisas que não espero mais. Que tudo passa, é um ensinamento que insistem em querer que eu aprenda há tanto tempo e que pra mim é difícil, porque aceitar que tudo passa, é entender que o que é bom, chega uma hora, também parte.
Saibamos pois, estamos sós, cantou o Marcelo, para um teatro lotado de pessoas que sentem suas solidões. É impossível, completamente impossível saber e sentir a solidão ao lado. Existem coisas que o ser humano não pode e não poderá nunca possuir, uma delas é saber como dói a dor do outro. Mas perceber, isso todo mundo pode, todo mundo deve, é uma habilidade, uma grande arte humana e precisa ser experimentada, revivida, pincelada.
Quando eu caminho em frente eu sei que é pra sentir saudades, porque olhar no que está no amanhã é dar um adeus ao que esteve ontem e está hoje. E como é triste e acinzentado o medo da eminência desse adeus. Se desvincilhar, se desvincular, deixar ir. Tudo coisa difícil, tudo custoso, tudo doloroso. E nessas horas, só resta levar a saudade, porque essa ainda vale à pena, mesmo que essa seja uma música do álbum anterior, de uma época a que também foi preciso dizermos todos adeus.
Sou dessas pessoas que sabe que é de se entregar a sorte e que esse vai e vem não só pode ser como é eterno, porque nessa vida de se amar e de se relacionar, não existem garantias de nenhum tipo. E nessas horas vem aquela chuva, a santa chuva de sentimentos que lava a nossa alma e nos obriga a procurar recursos não sei onde para cuidar de secar a lama e seguir vivendo. Não é ser triste entender que a dor acaba nos encontrando, porque a alegria também não nos abandona em tempo integral jamais.
Como eu sei? Eu sei porque vivo coisas que por alguns momentos me fazem esquecer que sou humana e, portanto, só. Sei porque amo, porque sou amada, porque consigo rir das minhas próprias bobagens. Sei porque reconheço todos os anjos que se fantasiaram de seres humanos e tornam minha vida cheia de riso. Vai ver é só você querer enxergar e perceber que também possui esses anjos e vai ver é só pedir a eles assim: Cuida bem de mim.
Por essas e outras que a vida é doce levar se o caminho é de fé. Fé no amor, na liberdade, no amor. Perceber dessa maneira não é fácil e em muitos momentos a gente resbala, tropeça, fraqueja, porque somos assim, humanos. Mas quando aprendemos a crescer com o que pode parecer em alguns momentos pura falta de sorte, o coração fica com jeito de bem me quer e dá vontade de gritar bem alto, como eu quis fazer e fiz sexta feira, dia 17, no show do Marcelo: Segura que a minha alegria não quer parar.
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