O centro de Curitiba é todo de casas velhas, construções antigas, cheias de pessoas, cheias de segredos. Nunca cansa olhar as fachadas dos dias em que as ruas foram outras e que as histórias daquelas casas e dos corações que ali moraram estavam começando. Penso sobre a beleza tão escondida por baixo dos muros pichados, da necessidade de tinta e um pouco de atenção.
É bonito sim. Porque essa beleza não é só da poeira e das portas que rangem quando abrem. É uma beleza que leva às fantasias e segredos sem saber bem quais. Beleza que transporta pra uma época em que elas eram as belas casas, sólidas, simples, imponentes, delicadas, sóbrias, suntuosas, enfim. As ruas de paralelepípedos não deixam que nenhuma mentira seja dita: ali há passado, há alma, paixão.
E quando uma velha entra em uma casa dessas, impossível não pensar nos quartos abarrotados de caixas, dentro delas as lembranças, dentro delas a saudade. Desviando dos gatos e dos móveis quebrados, há de se encontrar grandes contos, crônicas, romances. Todos da vida de gente que já foi. Que encanto dessas velhas que empurram carrinhos de feira e são simpáticas com os que sentam no beiral da porta. Que segredos contam essas velhas que passeiam pela noite desejando boa noite pra gente muito menos interessantes e com histórias bem mais entediantes, talvez por estes que ficam na rua, ainda não terem descoberto que "o caminho é o fim, mais que chegar".
Quando passam as velhas em seus carrinhos de feira, carregados de sei lá o quê, pensar na solidão acaba sendo a primeira coisa possível. Qual o peso de se carregar esses carrinhos na noite da cidade? Que peso têm suas histórias? Essas que só podem ser imaginadas, pensadas, inventadas pelos que se importam com a solidão dos outros, lembrando sempre que essa solidão um dia, pode se transformar ou já é a sua própria.