Às vezes a gente escuta que é difícil tomar a decisão certa. Eu não sei se vou tomar isso como regra, mas hoje comecei a pensar que, quando a decisão certa torna-se dura, é porque a gente não tá disposto a abrir mão das recompensas minguadas que a decisão errada traz.
Então, quando diante de dois caminhos (ou três, quatro, infinitos...Quem disse que a vida é fácil?), você decide aquele que já sabe que é o errado, acho que o mínimo a fazer é se questionar. Porque quando a gente se questiona, quando efetivamente olha para as razões das nossas decisões, é inevitável encontrar um responsável em frente ao espelho.
Mas olha, eu vou dizer uma coisa importante. Eu tô falando em certo e errado e sei que isso soa moralista. Só que não é a minha intenção falar em valores morais. Esse questionamento que eu estou fazendo não tem nada a ver com o certo e o errado cuja baliza eu devo procurar no olhar do outro. Na verdade, no que eu tô pensando é num certo errado cuja perspectiva é uma dor. Dessas que não se explicam facilmente, porque do lado de fora sempre parece fácil demais dizer o que fazer e o que não fazer (é aí que eu percebo que esse olhar do outro também é o meu olhar, mas não o meu mais meu, mais o meu próprio olhar acostumado aos julgamentos).
É tão incoerente para mim pensar em um ser humano que, com o poder das palavras que vêm de fora, pode transformar a vida, mudar escolhas e ser mais feliz. Como se a gente fosse feito de só um tipo de matéria, como se nossa constituição à maneira como se deu não tivesse implicado inclusive o sacrifício dessa completude, dessa solidez.
Não somos sólidos, não somos unos. Somos, ao contrário, um turbilhão de divisões. Para alguns fica impossível se deparar com isso. Para outros, a cada vez que uma dessas divisões se apresenta, a sensação é da confirmação de uma certeza que, ainda assim, é sempre surpreendente: não é que partes de mim funcionam mesmo independente do meu olhar?
Eu falei tudo isso porque hoje, naquele estado meio torpe que a gente fica quando acaba de acordar, entre desligar o despertador e dormir mais cinco minutos, eu me dei conta que a posição que eu assumi um pouco antes de dormir, aquela de pagar o preço pelo sofrimento a troco de satisfações minguadas, não poderia continuar. O mais engraçado é que, depois de uma noite de sonhos, não pareceu tão difícil assim quanto parecia na hora de dormir, quando eu pensava dever alguma coisa.
Talvez seja de pensarmos se, quando pensamos dever alguma coisa, o que a gente não gostaria era que algo nos fosse devido. O problema, e esse é meu velho e eterno problema, é que no que diz repeito ao que a gente entrega aos que nos cativam, não tem troco, não tem devolução e nem direito algum. Eu já disse isso muitas vezes e repito que nessas situações a diferença é entre o que você está disposta e dar e o que o outro está disposto a receber. O troco, portanto, fica por sua conta. O ônus é seu, campeão.