O que eu chamei de palestra, foi na verdade um testemunho de um trabalho árduo de verdade, fascinante e amendrontador, sacrificante e satisfatório. A Luciana conta no livro três histórias de três crianças que viviam no seu universo particular, esse mesmo universo que, tantas vezes na vida, todo mundo que se acha "normal" gostaria que se materializasse para poder fugir de tudo, das responsabilidades, do sofrimento, da dor, da dor do amor.
A dor do amor não é a dor de cotovelo. A dor de amor é a dor de ódio, essa dor de existir (que as pessoas pensam que podem evitar se anestesiando). De tão absurda, nem todos a suportam. E, diante disso, uma das alternativas é o auto-exílio mental, afetivo, psíquico, cujo preço é cobrado de uma forma tão cruel por todos os outros que acabam suportando bem ou mal: o preço é ser considerado louco e sofrer as consequências bem árduas da loucura.
Por sorte, descobri que eu conseguia conviver com ela, a loucura dos outros, que me relembra todos dias da minha própria. Ela abate, dá um cansaço mental que de tão grande, derruba fisicamente, é como se você tivesse levado uma surra. A loucura abala suas estruturas porque faz você sentir, sem nem saber o que está sentindo, que você também pode sucumbir à dor.
Lembro todos os dias de uma paciente querida que, mesmo eu dizendo que não seria mais a psicóloga dela, me dizia em cada sessão: "Ano que vem você vai ser minha psicóloga outra vez." Falta de contato com a realidade? Confusão mental, violência, palavras desconexas, repetições? São a marca de um limite que não foi atravessado. Limite árduo de atravessar e por isso, ninguém se lembra dele. O problema de quem é louco vai além de lembrar o que aconteceu, porque o que vem do real do inconsciente continua sendo presenciado, indefinidamente, todos os dias.
Se um dia eu encontrar a Luciana, pretendo dizer a ela que sim, eu encontrei muita paixão no meu trabalho. E também agradecê-la pelo livro com relatos tão bonitos do que é ser psicóloga, do que é ajudar alguém a encontrar uma forma de atravessar aquele o limite muito tênue entre a invasão do real na realidade. Não posso me cobrar demais, mas espero conseguir sentir a satisfação que ela sentiu em cada um dos casos.
Se eu deixar de pensar...
E tu deixares de pensar...
Então encontraremos a lógica.
Se eu deixar de defender-me...
E tu deixares de defender-te...
Então seremos fortes.
Se eu me perder em ti...
E tu te perderes em mim...
Então nos encontraremos.
(Luciana Gentilezza)