a dona desse blog
é de uma teimosia absurda. além de ser psicóloga, é leitora, aspirante à escritora, filha, irmã, tia e amiga, é indecisa por natureza, não sabe fazer planos e deixa sua vida ser dominada por uma ansiedade que ela sempre achou que disfarçava bem. acha que todo dia é ideal pra questionar se suas ações estão certas, se está sendo justa consigo, se faz o que gosta (e por enquanto faz). é uma dessas pessoas que gosta da solidão da própria companhia mas não dispensa uma cervejinha com aquelas pessoas que sabem conversar, de preferência em um boteco bem boteco, porque estes servem as mais geladas.

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  quinta-feira, 14 de julho de 2011
Sobre coisas me entristecem

Em um domingo desses, chegando em Curitiba, precisei ir à casa do meu orientador levar a reestruturação que eu tinha feito no segundo capítulo da dissertação. Foi o primeiro domingo daquela semana que em choveu durante quatro dias consecutivos, em que fez muito frio e também fez paredes, escadas e qualquer superfície permanecerem o tempo todo molhadas. Coisa agradável dos nossos invernos. Estava MUITO frio aquele dia e, na rua, a chuva fina tornava inútil qualquer tentativa de se proteger.

Mas era domingo, e aos domingos a passagem de ônibus em Curitiba custa 1 real. Eu pensei que, num dia desses, o movimento não estaria tão grande como costuma ser, afinal, eu pagaria para NÃO sair de casa. Depois até pensei que poderia ter contratado um motoboy para levar o trabalho para mim, mas quando tive essa ideia eu já estava na rua. Saindo de casa, caminhava em direção ao tubo e vi dois meninos com bicicletas. Uns moleques de uns 15, 16 anos, não sei direito. Estavam na borracharia perto de casa, parados, e, quando um deles me viu, falou alguma coisa para o outro, que saiu com a bicicleta. Em seguida, saiu o segundo. E eles pararam em frente a um prédio, antes do tubo em que eu ia pegar o ônibus.

Acho horrível desconfiar das pessoas baseando-se em esteriótipos. Mas o fato é que a gente tem que ter cuidado, e alguma coisa parecia estranha no fato de os meninos terem me visto, terem parado com as bicicletas mais em frente, na chuva (na borracharia estavam embaixo de uma cobertura) e ficarem me olhando. Decidi entrar no prédio, e a porteira estava saindo para fumar, ela abriu o portão para mim e eu fiquei lá dentro. E eles ficaram lá fora, olhando pra dentro do prédio. E eu pensei: "E agora eu chamo um táxi, né? Eles estão de bicicleta, eu estou a pé, não adianta nem correr para o tubo e nem correr para a casa".

Aí a porteira voltou e disse "tem que ficar de olho naqueles moleques". Aí eu falei pra ela que tinha entrado no prédio por causa deles e que precisava pegar o ônibus. Ela disse que sairia comigo e ficaria olhando até eu chegar ao tubo e deu tudo certo. Não sabia se ia acontecer alguma coisa, mas poderia acontecer e, infelizmente, a gente precisa desconfiar das situações e das pessoas. Fiquei com medo de voltar pra casa e eles ainda estarem lá. Por isso, desci em uma estação anterior àquela na volta.

Nesse mesmo dia, em uma das estações que o ônibus parou, entrou uma menina, devia ter uns 17 anos, com um bebê de poucos meses no colo. Os ônibus têm vários acentos reservados, ainda assim, ninguém que ocupava esses lugares levantou para dar o lugar a ela. E quem já andou de biarticulado sabe que você precisa das duas mãos para se segurar, tão rápida e bruscamente os motoristas dirigem. Claro que eu levantei na hora, ela agradeceu e sentou.

Agora que eu seguia o meu trajeto em pé, fiquei mais perto de um grupo de uns meninos bem novinhos, deviam ter uns 11 anos. E sabem? Minha mãe não deixaria eu, com essa idade, andar sozinha de ônibus por Curitiba. E eles estavam conversando sobre as formas com que os pais usavam para falar com eles. Apelidos que, de verdade, não eram nem um pouco carinhosos. Aí, quando o ônibus passou em frente ao shopping, um deles disse: "Lembra quando o Maicon (eu suponho que a grafia seja essa) roubava novecentão da mãe dele a gente torrava tudo em lanche aqui nesse shopping?".

Na hora duas coisas vieram à minha cabeça: coitada da mãe do Maicon e o fato que esses meninos torram o dinheiro todo em comida, em lanche, besteira de shopping. Por enquanto, eu pensei, por enquanto. E um deles, parece que adivinhando meus pensamentos, disse: "Vocês gastavam o dinheiro com comida?!". É talvez, à medida que eles cresçam e que convivam em um mundo em que as pessoas se protegem deles, eles comecem a gastar o dinheiro em outras coisas, ou as pessoas se protegem deles porque eles roubam o dinheiro da mãe, e não só da mãe, e gastam com outras coisas? Onde é que começa esse ciclo? Alguém sabe responder?

E o que a história da moça com o bebê no colo tem a ver com isso tudo? É que ela não parecia indignada em ter que ficar em pé no ônibus. Posso estar errada, de verdade, e posso estar, mais uma vez, fazendo um julgamento a partir de um preconceito. Mas talvez ela não acredita que as pessoas tenham que ceder lugares. É de quem chegou primeiro, é de quem teve sorte, se chegou depois, perdeu, playboy. Será que ela também não cederia se estivesse sem aquela criança e chegasse um idoso, por exemplo? Não sei. No fim das contas, aquela realidade do biarticulado dos domingos é outra coisa. Uma coisa que eu faço mais do que uma ideia do que seja, uma coisa que faz com que seja melhor tirar seu bebê de casa num dos dias mais feios que esse inverno viu nesse ano.

Essas coisas me entristecem de verdade. Vim para casa, parei na padaria, comprei uma sopa congelada, bem gostosa. Cheguei e liguei o aquecedor. Essa não é a realidade de biarticulado aos domingos.

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  quarta-feira, 6 de julho de 2011
Sobre modos de sofrer

Tinha mais ou menos doze anos quando um dia se viu só, tendo sido abandonada subitamente pelo pai de Franz. Franz suspeitava que alguma coisa de grave havia acontecido, mas sua mãe simulava o drama com palavras neutras e medidas para não traumatizá-lo. Foi nesse dia, quando saía do apartamento para juntos darem um passeio pela cidade, que Franz notou que sua mãe estava com sapatos descasados. Ficou confuso, quis avisá-la, temendo ao mesmo tempo magoá-la. Ficou com ela duas horas pelas ruas sem poder despregar os olhos dos seus pés. Foi então que começou a ter uma vaga idéia do que significava sofrer.
(Milan Kundera - A insustentável leveza do ser)

E existem aquelas pessoas que, diante de uma grande tristeza, de um grande sofrimento, choram, gritam e esperneiam. Essas mesmas pessoas podem também ser aquelas que juram sentir tanto ódio que seriam incapazes de sequer pensar em ter por perto de novo a pessoa "causadora" do seu sofrimento. Podem também ser aquelas que, nesse momento de dor máxima, decidem que a melhor coisa que poderia ter lhes acontecido foi justamente o abandono. E que conseguem pensar em várias razões para não pensar no quanto, muito intimamente, se culpam pelo assunto. Podem ser elas também que decidem que o melhor é sair, encher a cara, não pensar em mais nada que diga respeito ao que o amanhã reserva. Agora eu só quero estar perto das coisas que ME digam respeito e que dependem de MIM, elas dizem.

Já vi e ouvi, como também já fui algumas dessas pessoas. Uma, duas, várias vezes. E vou dizer uma coisa: todos os jeitos são inúteis, todos são ineficazes. Não tem solução que tira a dor da gente com a mão (como a gente gostaria). A dor é viva, contínua, como uma infecção que precisa sarar. Se você já teve uma unha encravada, você sabe do que eu tô falando. Não adiana colocar o remédio, enfaixar o pé e esquecer dele. É preciso deixar a infecção sair, é preciso deixar que aquele latejar, pouco a pouco se transforme em uma dor que chega a ser gostosinha. Nessas horas, se você apertar de leve, vai sentir que ali havia uma unha encravada. Mas ela não vai mais te martirizar, te impedir de colocar sapato. Nada disso, ela só vai te lembrar que teus pés são sensíveis e que você deve tomar cuidado.

Só que nem sempre você toma cuidado, porque não dá para fazer isso o tempo todo. O que dá é para frequentar um bom podólogo que aplaque as novas incidências de unhas encravadas (é quando a metáfora pára de funcionar). No que diz respeito a outras dores, outros truques, outras técnicas são necessárias. Existem até profissionais que dizem ajudar, remédios que dizem aliviar. Mas no fim das contas, de todas as maneiras de se viver um sofrimento, talvez o silêncio seja aquele que nos coloque mais em contato com a própria dor. Tão em contato com a dor que os outros só notam que algo está errado quando você sai de casa com dois pés de sapatos diferentes. Quando você esquece coisas que não deveria esquecer. Quando as suas energias estão muito voltadas para te manter em pé, conversando, respirando, suspirando de tempos em tempos. E nem todo mundo é capaz de perceber a sutileza de um sofrer que se apresenta por pares de sapatos errados.

Acho que eu até já falei dessa citação do Kundera. Mas ela continua sendo, na minha opinião singela, a melhor definição de sofrimento que alguém poderia me dar.

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