Dia 08 chegou, dia 09 passou e eu só cheguei agora para contar a boa notícia que vai fazer do meu fim de ano melhor do que tem sido já que algumas mudanças desestruturaram muitas das minhas convicções. A vida é realmente um eterno readequar de expectativas.
Segunda feira fui ao cinema com uma amiga e assistimos 500 dias com ela (500 days of Summer). Esse filme traduz tudo o que a gente sente quando cria uma história e acredita tanto nela, a tal ponto que toda e qualquer contradição é encarada com estranheza e rejeição, como se fosse impossível que os outros não estivessem na mesma mesma sintonia que nós. O que só demonstra a humana e absurda ilusão da possibilidade de controlar o outro. Eu já disse isso uma vez no livejournal e digo novamente: a gente tenta controlar o outro e faz um pedacinho da vida ficar parado.
Nem falo isso só por causa de relacionamentos porque a vida não se trata só disso. Trata também de estudo, de trabalho, de diversão. Nos últimos seis meses eu briguei com expectativas frustradas. Eu lutei diariamente contra o descontentamento, contra a angústia, contra a minha necessidade excessiva por controle. O resultado, no mínimo, foi uma dermatite que sempre aparece nas minhas mãos quando algo não vai bem. Sinal do meu corpo e da minha mente de que estou exagerando, que fui além, que cruzei a barreira do aceitável e que está na hora de rever alguns conceitos e atitudes.
Muita energia foi gasta. Física e afetiva. O que não significa que ela tenha sido jogada no lixo. Não falo de arrependimento, mas do aprendizado que esses dois anos de formada me deram. Aprendi e me indagar sobre coisas que nem passavam pela minha cabeça. Quando eu estava na faculdade, eu admirava pessoas que estudavam algo específico, que dedicavam suas vidas a um assunto. Eu procurei, mas durante a faculdade, não consegui encontrar o que me inquietava a ponto de eu pesquisar, de eu ir a fundo. Quando eu desisti de Buenos Aires, voltei me sentindo derrotada, fraca, covarde. Não sei dizer quando isso passou, e na época, eu pensei que tava seguindo fora do trilho, que me afastava do meu caminho.
Isso que chamei de desvio há dois anos permitiu hoje chegar onde cheguei. Foi o que permitiu eu desenvolver um projeto, começar a fazer uma pesquisa, enfim, entender que energia é essa que move a gente a estudar. E conhecer essa energia, viver ela, isso faz com que um sentimento tomasse conta de mim hoje. Sentimento de orgulho. Isso me permitiu passar no mestrado.
Quando vi o filme pensei no quanto as pessoas nos vêem como num quadro, algo que não corresponde à realidade e que diz muito pouco do que passa no coração das pessoas. É por isso que disse hoje para outra amiga que não há um ser humano no mundo que não seja só. Na solidão do meu coração, ninguém compreende o que passa. Mas pode tentar. E essa tentativa é justamente o que faz a gente amar os outros e contar com eles. E eu tive alguns corações para me acompanhar nesse processo de entrada no mestrado. Sou grata por isso.