Quase todos os dias meu despertador toca às 9h, mas eu levanto ou 10h, ou 10h30. Se a gente considerar que hoje em dia meu trabalho é estudar e eu fui dormir 2h30 porque fiquei estudando, durmo em torno de sete horas por dia. Coloco o despertador para as 9h pra ficar alerta, pra não passar a manhã na cama, aí dá tempo de fazer almoço e outras coisas aqui em casa.
Mas ontem, 10h30 acordei com um susto, estranhei não ter ouvido o despertador, levantei, arrumei minha cama, tomei um banho e comecei a fazer o almoço, porque 14h eu tinha médico. Em outubro do ano passado consegui uma consulta para 01/02. Na terça feira me ligaram perguntado se eu não gostaria de adiantar minha consulta para ontem. Ontem eu nem teria saído de casa, se essa mudança não tivesse acontecido. Saí de casa antes das 13h15, porque eu não sabia onde era o consultório. Olhei no google maps, tive uma idéia de altura da rua e fui bem adiantada. Levei o Freud comigo, meu caderno, caneta e lápis, porque tem muito médico que faz a gente esperar horas.
Quando eu tava na garagem, encontrei o síndico. Ele olhou pra mim e disse "Nossa, vai sair de carro hoje?". Como eu sou implicante, fiquei com vontade de responder que não, que eu tinha resolvido passar o dia dentro do carro na garagem, mas fui educada: "Pois é, uma raridade". Aí ele, "Você sempre sai a pé, né? Aqui em Curitiba é complicado mesmo conseguir estacionar". E eu completei, "Uso só quando preciso, quase sempre eu vou muito perto daqui, e uso ônibus bastante também". Entrei no carro e parti.
Estranhei que naquela hora a Visconde de Guarapuava tava estranhamente tranquila. O trânsito fluindo. Daquele jeito, eu pensei, chegaria antes das 13h30 no consultório da médica, ainda bem que tava levando coisas pra fazer. Na rua que eu tinha que virar, a Coronel Dulcídio, a mesma coisa, uma tranquilidade, semáforos abertos e eu segui descendo. E por um segundo, olhei pro lado para ver se eu estava próxima do número onde eu tinha que ir. E naquele segundo, o trânsito parou, e eu enchi a traseira do carro da minha frente. E foi a pior sensação que eu já tive, mas só até aquela hora.
Sabe, eu sou calma. É muito, muito difícil eu perder a cabeça. Mais difícil ainda é eu alterar meu tom de voz. E quando aconteceu isso e eu me dei conta que tinha batido o carro e que não tinha sido um acidente pequeno, que meu carro, tão querido, que eu fiquei tão feliz em comprar, estava com a frente destruída, radiador estourado, óleo vazando e sei lá mais o quê. Fiquei muito triste e confusa. Não consegui sair imediatamente do carro. Eu tava tremendo e eu tava sozinha. E as pessoas que eu tenho aqui estavam no trabalho. Na mesma hora, apareceu uma guardinha da urbs e um amigo, dessas coincidências felizes, desses sinais que volta e meia eu recebo de que Deus vai muito com a minha cara.
Eu saio do carro e tento falar com a dona do outro carro. Explico que vou ligar pro meu seguro e chamar o guincho. Peço os dados dela, ela pede os meus e tudo bem. Até que chega uma filha dela, uma que não estava no carro com ela na hora do acidente, muito descontrolada, grita comigo enquanto eu falava ao telefone. Diz que eu devia estar correndo muito, que era um absurdo eu estar correndo naquela rua. E isso não era verdade. E eu odeio quando as pessoas não ouvem e quando falam o que não sabem. Ela disse que eu não deveria nem sair de casa. Lembra que a batida tinha sido a pior coisa que eu já havia sentido? Pois é. Essa frase superou.
Eu tenho carteira há 8 anos. Uma vez uma pessoa bateu em mim no trânsito e não percebeu. Fui atrás e com toda a educação, e com mais educação ainda exigi que ela pagasse os danos. E pagou e tudo bem. Mas aquela moça, muito descontrolada, imagino que pelo susto que levou, disse que eu não deveria sair mais de casa. Eu nunca levei uma multa no trânsito, nunca passei acima da velocidade em um radar, e eu estava no máximo a uns 50 km/h numa rua em que ninguém anda a menos que isso. E eu me distraí, por um segundo e bati no carro parado dela.
Foi minha responsabilidade. Meu erro. A gente tem que olhar pra frente, porra. Mas sei também (e a outra motorista me disse isso quando pediu desculpas pela atitude da filha) que nada garante que amanhã não seja ela. Da mesma forma que há alguns anos, a falta de atenção de uma pessoa atingiu meu carro, ontem minha falta de atenção atingiu o carro de outra pessoa. E não me eximi. Resolvi tudo. É claro que ela vai ficar sem carro até ele ser consertado. É claro que é um transtorno. Mas é claro que eu não sou um perigo que deveria ficar em casa. Quando uma coisa dessas acontece, todos frustra! Todos. E eu não saí de casa pensando: "Nossa, é hoje que eu encho a traseira de um carro..."