a dona desse blog
é de uma teimosia absurda. além de ser psicóloga, é leitora, aspirante à escritora, filha, irmã, tia e amiga, é indecisa por natureza, não sabe fazer planos e deixa sua vida ser dominada por uma ansiedade que ela sempre achou que disfarçava bem. acha que todo dia é ideal pra questionar se suas ações estão certas, se está sendo justa consigo, se faz o que gosta (e por enquanto faz). é uma dessas pessoas que gosta da solidão da própria companhia mas não dispensa uma cervejinha com aquelas pessoas que sabem conversar, de preferência em um boteco bem boteco, porque estes servem as mais geladas.

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  domingo, 29 de março de 2009
Sobre "Ele não está tão a fim de você"


O livro no qual o filme foi inspirado é vendido no Brasil como "Ele simplesmente não está a fim de você", que tem um sentido bem diferente de "Ele não está tão a fim de você". Eu não li o livro, apesar de já ter visto nas livrarias e eventualmente ter feito a brincadeirinha "Era disso que eu precisava".

No filme a intenção é deixar clara que as mulheres se enganam, que elas buscam desculpas para os homens antes mesmo que eles pensem ou se importem a respeito, e que dessa forma nós não nos sentimos tão rejeitadas. É uma forma de encarar a vida. As negações estão aí para serem usadas, afinal de contas. Mas quando uma mulher percebe que a resposta é muito mais simples do as tantas desculpas que ela imaginou para o filhodaputa que deu um perdido nela, tudo fica tão mais fácil...

O problema é que o coração da menininha, bate ao lado esquerdo do peito. O coração do menininho ocupa quase que inteiramente outro órgão, este situado em uma região inferior, entre as coxas. Como duas pessoas cujos corações localizam-se em lugares tão distantes vão dialogar?

E aí, no filme, rolam várias histórias parelelas mas que têm alguma relação umas com as outras: o marido infeliz que trai a esposa, a vaca que mesmo sabendo que o cara é casado tá nem aí, a eterna romântica, cheia de esperanças, aquela que tem o cara que ama por perto, mas ainda assim, não está satisfeita e a esposa dominadora.

Gostei muito. Faz a gente rir de si mesmo.

Depois dos murros em ponta de facas dessa vida, sei que quando uma mulher é apaixonada por um cara, a melhor coisa que pode acontecer é ela ter amigas o suficiente para sequestrar o celular.

Divertido mesmo é quando você é capaz de manter a distância o bastante pra ele entender que é apaixonado por você, e que vai precisar fazer mais, muito mais, do que dar um telefonema. É nessa hora que a gente se sente realmente vitoriosa, e a Gigi demorou o filme todo para entender isso!

PS: Por que a Scarlett Johansson tem sempre que ser uma vaca, no sentido destruidor de lares da palavra? Fica a reflexão...

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  quarta-feira, 25 de março de 2009
Sobre a frustração

Desde criança eu sou assim: alguém de grandes expectativas. Como tudo nessa vida, há um lado bom e um lado ruim disso. O lado bom é que eu acabo sendo esse tipo de pessoa que sempre espera o melhor. E durante essa espera, penso, sonho, imagino, escolho roupas, enfim, começo a me preparar muito antes das coisas, enquanto espero por elas.

O lado ruim é aquela verdade que todo mundo experimenta cedo ou tarde: quanto maiores as expectativas, maiores as frustrações. Diante disso, não tem muito o que falar, afinal, que palavras descrevem os dias perdidos em que a ansiedade acabou tomando, as noites em que o sono demorou tanto pra chegar? E a viagem que custou a passar? E o investimento emocional? Existe algum ressarcimento? Claro que não.

Tive aquela velha comprovação empírica, ou seja, através de experimentação e observação prática, que todas as pessoas desse mundo são de carne e osso e quando a gente espera que elas não sejam, a decepção é enorme. Soa adolescente isso de ter um ídolo. E é. Mas eu ainda tô crescendo e não quero cobrar muito de mim, afinal, o que eu já cobro é o bastante.

Será que eu consigo mudar a minha atitude em relação às expectativas? Será que eu consigo mudar a forma como me sinto depois da frustração? Não sei. Mas sei que dessa vez, o milho verde no potinho e o suco de maracujá fizeram as vezes do colo de mãe. Um colo que eu tive que me dar.

Bom é ter alguém cuja confiança é incondicional. Alguém para quem se possa dizer o quanto seu coração se partiu. Alguém que fala que você vai sofrer enquanto agir assim, mas que gostaria de estar perto nesse momento, mesmo que não possa, e que é pra você não chorar porque não vale a pena. Acolhimento é palavra que dá conta da frustração.

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  sábado, 21 de março de 2009
Sobre a rotina

A rotina desse ano está muito melhor que a do ano passado. Sem comparações, aliás. A pior parte é ter que viajar no sábado. Sábado é um dia que sempre gostei. Preguiçoso, sempre com a possibilidade de se fazer algo diferente. Mas a melhor é chegar em São Paulo domingo, dormir, descansar, aproveitar de verdade, fazer coisas por lá, como ir ao show do Los Hermanos amanhã! Eu acho que isso me faz sentir menos estressada e com menos raiva dessa minha rotina de gente louca que viaja vinte horas todas as semanas - dez para ir, dez para voltar.

O investimento é enorme. Material, com certeza, mas, ainda bem, não preciso me preocupar com isso. Agora, o investimento emocional é de matar. E eu aceitei. Aceitei usar três anos da minha vida sabendo que seria assim. Não penso em mudar pra São Paulo. Aqui a minha vida começou a acontecer, e a gente não pode fugir disso, certo? Mas penso em continuar fazendo cursos e indo pra lá, e se tudo der certo, fazer minha análise lá.

Mas sobre essa história da análise, só vou saber segunda feira. E garanto que a ansiedade é grande e se vocês soubessem o tanto que eu admiro a pessoa que eu escolhi para ser meu analista, vocês entenderiam. Quem me conhece, e conhece ele, entende. Não tem como ser diferente. O que eu não sei é se vou poder pagá-lo. E esse é um sentido prático das coisas que eu detesto.

As coisas estão caminhando bem, apesar de tudo. E eu continuo com a impressão que continuarão assim. Espero ter boas histórias da viagem pra contar na semana que vem!

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  quarta-feira, 18 de março de 2009
Sobre anestesia

"subst f anestesia [ɐnəʃtə'ziɐ] tratamento para suprimir a sensibilidade"

A associação imediata que eu faço com a palavra anestesia é dor. Durante muito tempo, quando ia ao dentista, não recebia anestesia. Mesmo para tratar cárie. Quando eu tinha 17 anos, precisei tratar uma e fui em outra dentista. Fiquei muito admirada que ela aplicou uma anestesia para retirar a cárie.

Eu pensava que as anestesias serviam para tirar cisos, fazer tratamentos de canal, extração de dentes, enfim. Por outro lado, achei bem bacana a situação de ficar com a boca adormecida e não sentir nem a pressão que faz aquela maquininha do dentista.

O mais engraçado é que eu era uma criança pequena e não lembro de sentir dor. A dentista falava pra mim "Se doer, você me avisa". A dentista atual fala "Pra evitar a possibilidade de dor, vamos anestesiar". Eu conto essa história porque hoje, na vida, normal é anestesiar.

A vida é sofrida e isso é fato. Mas me constrange a dificuldade que é encarar esse sofrimento. Há uma verdadeira inconformidade das pessoas diante da dor de viver. Ansiedade, insônia, depressão, as famosas (e mal denomidadas) crises de pânico (um pouco demodé), transtorno de personalidade bipolar (esse tá bombando). Existe anestesia pra isso.

Lacan chama de covardia moral o recuo do sujeito diante do seu desejo. Mas isso não é um julgamento. É fato que acontece o tempo todo e com todos. Encarar a liberdade pelo próprio desejo o tempo todo seria ideal. E o que é ideal fica só no mundo das idéias mesmo. A verdade é que todo mundo vez ou outra recua diante da vida, recua diante do próprio desejo. E se eu me anestesio, eu recuo diante de todos eles. Isso é supressão da sensibilidade, conforme a definição do termo. Que no caso das anestesias para as dores da alma, suprimem a personalidade mesmo.

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  sexta-feira, 13 de março de 2009
Sobre aquilo que não foi dito

É muito doloroso lidar com o que não foi dito. É porque o não dito é a parte que te atinge num nível tão mais profundo e de uma forma tão mais intensa...

Quando eu era mais nova, eu deixava de dizer muitas das coisas que eu pensava e sentia e o sofrimento era grande. Pode ter sido pela necessidade de agradar, de evitar o confronto, de manter as amizades sem conflitos. O fato é que muitos sapos foram engolidos. Desnecessariamente.

Hoje eu procuro falar o que eu sinto no tempo certo, evito crises assim. Essa semana fui meio direta num desses ataques de sinceridade e percebi que magoei alguém, e aí tentei consertar, acho que consegui. Sabe quando as pessoas não fazem uma coisa por mal, mas por razões muito pessoais, e você, cheio de padrões de julgamento, coloca ela numa corte marcial? Eu fiz isso, mas percebi em tempo.

Levar as coisas à ferro e à fogo é muito inquisitivo. E pior, você acaba se magoando e magoando mais. Eu tenho amigos de anos, amigos que não moram na mesma cidade que eu, amigos com quem eu converso no msn quando sinto vontade, deixo um scrap quando sinto saudades. Pessoas que eu posso ficar anos (literalmente) sem conversar, meses sem encontrar e trocar qualquer confidência da minha vida, mas quando encontro só resta o espaço pro interesse, pro querer saber como andam as coisas, porque afinal de contas, todo mundo toca sua vida.

São pessoas que já puderam contar muito comigo e vice-versa. Pessoas que passaram junto de mim fases das melhores, que me conheceram de um jeito e agora me encontram de outro e, apesar disso ou por causa disso, continuam a gostar de mim.

Nunca sobra espaço para cobranças. Porque se é nesse momento que nós estamos juntos, é porque esse é o tempo em que os dois desejos de estar juntos coincidiram. E em vez de perder tempo com mágoas desnecessárias, é tão melhor tentar se atualizar da vida do outro, saber a quantas anda o enredo da história dele.

É uma pena que nem sempre as coisas aconteçam dessa forma. É uma pena que as pessoas percam tempo com ressentimentos, quando poderiam falar mais abertamente sobre eles, colocar as coisas em pratos limpos e tocar a vida pra frente. É uma pena quando o amor substituído pela frieza e hostilidade.

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  terça-feira, 10 de março de 2009
Sobre a filosofia de Manoel Carlos

Nas novelas do Manoel Carlos, cidades grandes como o Rio de Janeiro possuem apenas um restaurante, frequentado por todos os núcleos da novela. Minha vida segue esta cartilha.

Eu sempre encontro conhecidos em lugares muito inusitados e/ou quando não quero encontrar essas pessoas. Quando eu fui ao Rio, encontrei no Pão de Açúcar a cunhada da minha irmã. Dentro do bondinho! Como se não bastasse, a encontrei novamente em Copacabana logo depois.

Ontem entrei no metrô lá em São Paulo, de mala e cuia para ir pra rodoviária e quando dou por mim, um cara tava me olhando, quando olhei pra ele, ele diz "Angela?". Ele estudava comigo no terceirão, eu sabia que ele morava em São Paulo, mas entrar no mesmo vagão que ele é o cúmulo do manoel carlismo na minha vida.

Chegando na rodoviária, fui a primeira a entrar no ônibus. Na hora da parada pro lanche, desci e dei de cara com a mesma mulher com quem eu e as meninas fizemos amizade num bar na Vila Madalena que fomos para assistir o Ronaldo jogar. Manoel Carlos, pare de escrever minha vida, suas novelas são chatas e eu não me chamo Helena.

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Sobre a impotência

A vida é dura na maior parte do tempo. Quando você é confrontado com a necessidade de fazer escolhas, infelizmente, vai ter que abrir mão de coisas com as quais está acostumado. O que eu aprendi com a psicanálise, e que no começo me fez resistir a ela, é que desde o início da vida a gente experimenta o amargor de viver.

Isso não pessimismo exagerado. É a vida real. O real é sempre imprevisto, de repente se enfia em frente àquilo que você, imaginariamente, havia percebido, previsto, esperado. O problema é quando esquecemos do real e ficamos curtindo o que poderia ter sido e não foi. Não tem como não ficar descontente.

O real mostra pra mim o tempo todo as minhas impotências. Mas quando a impotência existe e pronto, c'est fini, é tão mais fácil... Difícil é conviver com a possibilidade de transformar a impotência em poder. O poder pegar um avião e confortar um sofrimento que também é o meu, de poder dar um abraço, um beijo e dizer que vai ficar tudo bem. O poder deixa a gente mais frustrado do que não poder.

Quando as pessoas estão separadas e há impossibilidade de se encontrarem, quando não está nas mãos de ninguém, a frustração deve ser menor. Hoje eu posso pegar um avião, desde que eu tenha dinheiro e tempo pra viajar. E as duas coisas são complicadas pra mim.

Por isso, poder e ao mesmo tempo não poder é uma baita desilusão. E aí, diante disso, a única coisa que eu posso fazer é chorar. Não chorar pra conseguir o que eu quero, como se eu fosse uma criança mimada, mas chorar pra permitir a descarga emocional. Chorar de soluçar, porque o meu próprio soluço me sacode e mostra pra mim a dureza do real.

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  sábado, 7 de março de 2009
Sobre a piazada

"A piazada" são os dois cachorros da minha vizinha. Eles não têm nome, mas e por isso são "A piazada". Para quem não conhece o termo, piazada é a mesma coisa que gurizada, meninada, garotada. Ou seja, é o coletivo de piá, uma expressão bem sulista. Eu ouvi uma vez que piá é um termo indígena que significa "meu coração" e que era assim que as mães índias referiam-se às crianças.

Mas o que vem ao caso é a história da piazada. São dois cachorros vira-latas desses bem pequenos e com a maior cara de maloqueiros. Estão sempre correndo juntos pra lá e pra cá, sempre tentando escapar do terreno da casa onde eles vivem e latindo para todo mundo que passa, além de serem extremamente desobedientes. A dona deles vive viajando e passa muito tempo fora. Eles ficam em casa e minha mãe, que além de vizinha é amiga dela, cuida da piazada.

Ela não acha nada demais fazer isso por eles. Quando meus cachorros eram vivos, essa vizinha também vinha aqui em casa de vez em quando dar comida pra eles quando a gente viajava. Além disso, a minha mãe gosta de cuidar dos outros e sempre cuidou muito bem dos cachorros, tanto é que, quando ela viajava, nenhum dos nossos dois comia direito, ficavam realmente deprimidos.

Eu sinto falta de ter um cachorro aqui em casa, mas ao mesmo tempo, sei que se tiver, não vou dar a atenção que um cachorro merece. Mas sei que meus cachorros, especialmente a Babalu, que morreu em novembro, faz muita falta pra minha mãe. Um dia antes de ela ir embora pra sempre, ficou o dia todinho ao lado dela, enquando ela cortava a grama. Eu fico triste quando lembro disso. Acho que nunca mais vou encontrar um cachorro como os meus. E talvez por isso, seja mais fácil acostumar com a idéia de não ter nenhum. Enquanto isso, quando dá, eu fico observando a piazada, correndo e se divertindo como loucos.

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  sexta-feira, 6 de março de 2009
Sobre coisas difíceis

É difícil lidar com a saudade. Eu nem sei se eu chego a lidar com a minha ou sigo fingindo que ela não existe enquando tenho outras tantas coisas para pensar e resolver.

Nos últimos dias eu percebi que toda vez que ela aperta dentro do meu peito e começa a gritar comigo, me deixando surda de dor, um ódio do tamanho do mundo parece que quer sair de mim. E aí eu xingo e sinto raiva e isso cala um pouco a boca da saudade.

Não é à toa que o ódio é o sentimento que aparece quando ela começa a ficar sufocante. Ódio que é o sentimento mais complementar ao amor, e não o mais contrário. Eu tenho ficado odiosa em vários momentos dos meus dias. E amanhã só faz uma semana. E ele me prometeu que se eu pensasse que na semana que vem a gente se veria de novo, não seria tão ruim.

Eu juro que tentei. Mas agora que semana que vem já chegou, o que eu faço?

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  quarta-feira, 4 de março de 2009
Sobre agendas

Eu achava que a minha vida era muito mais organizada quando eu usava agendas. Cado passo que eu dava, ou pretendia dar, era anotado. Se a tarefa tivesse sido cumprida, eu marcava um "V", senão, eu colocava um "X" bem grande e anotava a mesma tarefa no dia seguinte.

Mas eu não fazia isso porque eu tinha muitos compromissos. Se eu não tivesse jogado fora, poderia provar que as atividades da minha agenda consistiam em coisas como "aula de francês". O detalhe é que eu fazia francês às terças e quintas à noite. Eu não iria marcar nada no lugar, ou esquecer. Marcava também todos os dias da minha terapia, das supervisões que também eram nos mesmos horários. E eu me achava muito importante em poder cumprir "tudo" isso.

Mas o mais engraçado da minha agenda, e que tem a ver com algumas das bizarrices que são típicas de mim, era que eu anotava, por exemplo, "limpar o quarto", "lavar a roupa", "passar a roupa". Normalmente as páginas ficavam cheias. Eu poderia preencher um dia inteiro com tarefas que, definitivamente, não mereciam estar em uma agenda.

A realização que eu sentia em poder marcar cada atividade realizada sempre merecia uma recompensa. Era qualquer coisa como sorvete, suco de maracujá com kiwi, macarrão com atum, coisas que eu sentia prazer em comer ou beber. Às vezes até cerveja eu tomava, mas isso, não tinha muito lá em casa, porque eu correria o risco de sempre querer me recompensar assim, e aí, já viu.

No ano passado, eu ganhei duas agendas. Uma linda, presente da minha irmã, do pequeno princípe. A outra ganhei quando me matriculei na pós da PUC, bonita também. Não usei nenhuma. Eu não tinha grandes coisas para fazer. Tinha que viajar, estudar, preparar aulas. Mas não sei porque não anotava. Acho que é porque eu não me sentia merecedora de recompensa por cumprir essas coisas, sei lá. Minha vida foi uma zona e eu fazia tudo de última hora, no último minuto. Mas funcionou e sem angústias.

Mas esse ano, eu quero uma agenda. Ainda mais agora. Quero uma daquelas com os horários do dia ao lado. E quero também um monte de pacientes para poder anotar ao lado desses horários. Acho que devo começar comprando a agenda e depois um número de telefone para poderem me ligar.

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  segunda-feira, 2 de março de 2009
Sobre "Nunca te vi, sempre te amei"


"84 Charing Croos Road" é o título original do filme traduzido em português para "Nunca te vi,sempre te amei". É também o nome de uma livraria especializada em livros e outros materiais difíceis de encontrar que existia em Londres. O filme ambienta-se entre Estados Unidos e Inglaterra, em 1951, ano da coroação da Rainha Elizabeth II e momento em que a Inglaterra ainda se recuperava da II Guerra Mundial. Foi lançado em 1986, em que eu tinha 2 anos, e com certeza ainda não sabia quem era Anthony Hopkins (um dos protagonistas) e Judi Dench (coadjuvante), hoje uma das minhas atrizes favoritas.

A história é a de uma escritora que recorre a uma livraria na Inglaterra para encontrar algumas preciosidades. O que eu achei engraçado é que essas preciosidades custam coisa em torno de 4, 6 dólares, e eu fiquei imaginando que a Inglaterra deveria estar enfrentando uma recessão enorme. Como em 1951 não havia sites de busca e nem e-mail, todo esse contato é feito por cartas, que demoram aproximadamente uma semana para chegar. O interessante é que as cartas que a escritora manda não são apenas expressando seus pedidos. Ela conta o que achou do livro, pede indicações, coloca a própria revolta e começa a tratar o funcionário da livraria com a intimidade de amigos muito próximos. As cartas dela são tão esperadas, que logo todos os funcionários começam a escrever para ela.

Ela começa a mandar presentes, cestas com enlatados e afins, porque descobre que os ingleses não têm acesso a muitas dessas coisas, devido a essa recessão. Manda presentes para a esposa do funcionário - uma irreconhecível e jovem Judi Dench - e para as filhas dele.

A história é simplesmente essa, não tem um grande desfecho, nem uma reviravolta, mas é muito interessante mesmo assim, especialmente quando eu sou o tipo de pessoa que acredita que a literatura é uma das formas de fazer nascer amizades com gente que você nunca viu ou nunca conversou. Em uma das cenas, a personagem fala que o que mais gosta dos livros usados é abrir o livro e deixar ele cair na página que o dono anterior mais lia. Que prefere os livros com dedicatórias e aqueles cujas margens estão anotadas. Só por essa carta, o filme ganhou meu coração, porque eu também prefiro os mais usados, os anotados, os que receberam dedicatória.

Uma vez uma amiga comprou um livro que eu indiquei num sebo virtual. Quando o livro chegou tinha uma dedicatória feita no dia, mês e ano que ela nasceu. Se não se tratasse de "A insustentável leveza do ser" ficaria mais admirada. Mas de qualquer forma, 20 e poucos anos antes, no dia que ela nascia, alguém recebia um presente que mais tarde, viria parar nas mãos dela.

Isso explica o que é nunca ver uma pessoa e ainda assim sempre amá-la. Acontece muito quando a conexão é invisível, quando ela acontece por causa das palavras bem escritas de uma carta vinda de alguém que não te conhece e ainda assim pensa em você, ou por uma paixão em comum como é essa pelos livros.

Quando compro um livro pela internet,a menos que seja nos sebos, recebo no e-mail de confirmação uma variação da frase: "Essa é uma mensagem automática, não responda". No filme, a livraria mandava o livro e a conta. Com a certeza que receberia. Hoje a gente paga a conta e recebe o livro. E não adianta chacoalhar a caixa, lá de dentro não vai cair nada além da nota fiscal.

Eu sou uma romântica mesmo. Nasci no ano errado.

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  domingo, 1 de março de 2009
Sobre encontros e desencontros

Não o filme, falo da vida mesmo, da tristeza que dá quando eu percebo que as coisas mudam muito depressa, que dá muito trabalho manter o encontro.

O que une as pessoas é um fio muito fininho e muito delicado que não tem nada a ver com o lugar que a gente vive, se é perto se é longe, que não tem nada a ver com os pontos de vistas, se são comuns ou inversos. O que manda nos encontros e nos desencontros é a vontade. Uma vontade que precisa ser mútua, que exige que duas pessoas segurem a ponta do fio com a intensidade certa, ou ele vai se arrebentar, o que acaba estragando tudo, ou ele vai se soltar.

Acho que quando o fio se solta, por mais doloroso que isso seja para quem ficou parado com o fio nas mãos, vendo a banda passar, a tristeza acontece, a gente segue vivendo, estudando, trabalhando, tomando cerveja num boteco, mas eventualmente, antes de dormir, deseja que aquela pessoa, resolva pegar a ponta outra vez. Que ela ligue ou mande um e-mail, que apareça na sua casa pra tomar um café e que conte as graças e desgraças da vida nesse tempo longe.

Eu não estou aqui desejando que os desencontros não aconteçam, isso é impossível, o encontro é sutil demais. A sutiliza muitas vezes faz a gente não perceber certas coisas, olhares de reprovação, falas de abandono que demonstram a falta de vontade que existe, e que existe por várias razões.

E todo mundo,todo mundo é responsável por soltar ou fazer arrebentar o fio muitas vezes durante a vida. É só pensar na falta de ânimo que muitas vezes sentiu na hora de sair de casa e encontrar aquela pessoa com quem sempre pôde contar. Na energia que se gasta para continuar deixando ela fazer parte de você mesmo e que a rotina e as coisas da vida, que vivem mudando, tenham feito cada um seguir para um canto.

Uma coisa que eu sei, e que os encontros de uma vida inteira que eu tenho ainda me provam, é que o fio do encontro, por mais delicado que seja, é infinitamente flexível e pode caminhar quilômetros e mais quilômetros. Eu acho isso muito bonito. Só torço para desistir só mínimo necessário dos outros. E que eles desistam só o mínimo necessário de mim.

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