Já disse no último post que Papai Noel não me deve nada e que, quem sabe, seja eu a devedora. Lembro de ter terminado 2010 com a mesma sensação com que termino 2011: aquela de ter muito agradecer e pouco a desejar. Que isso é sempre bom, acho que todos concordam.
Mas há uns dias, eu vi que alguém postou no Facebook uma tirinha em que Charlie Brown falava sobre o verdadeiro significado do natal e acho que era o Lino que falava para ele que essa é uma data emprestada do antigo calendário pagão, anterior ao monoteísmo. Não sei se a pessoa que postou queria invalidar o significado do natal que a gente atribui ao nascimento de Cristo, e não quero questionar isso.
Só que todo mundo aqui foi criado em uma sociedade cristã. Você pode ser ateu, agnóstico, muçulmano ou judeu. Nossa sociedade é cristã. Logo, estamos impregnados por um significado que a gente aprende muito cedo. Não me considero autorizada em falar sobre esse significado e prefiro não falar besteira. Eu também não pretendo falar sobre a questão comercial do natal. Eu gosto de ganhar presentes no natal, gosto de dar presentes no natal. Gosto da decoração, das luzinhas, gosto de tudo isso. Gosto da parte comercial do natal.
Mas esses dias, sem muito assunto para postar aqui, pensei que, nesse ano, escrevi muito sobre coisas que acontecem e que me deixam triste. Essas coisas se relacionam a um tema só: o fato de um ser humano acreditar que outro ser humano só é igual, e por isso bom, se for igual a mim, se pensar como eu, se professar a fé da mesma maneira que eu julgo adequada, se relaciona-se afetivamente do meu jeito, se tem planos de vida que se enquadram em determinado padrão, enfim, eu poderia passar dias escrevendo sobre as coisas que eu percebo que muita gente gostaria de fazer com seus 'irmãos': torná-los iguais.
Sempre me questiono no porquê disso de se pensar que o fato de eu acreditar em determinada coisa, que o fato de eu agir de determinada maneira, faz disso a coisa verdadeira e a maneira certa. Claro que essa é uma questão que a gente só começa a se fazer quando se permite conviver com a diferença. Quando sai de de uma redoma destrutiva e percebe a riqueza da diferença das cores, das pessoas, do mundo. Não é todo mundo que se permite isso, e aí eu acho que essas pessoas, elas deixam de lado muito do significado do natal. Natal é nascimento, não é? Tô equivocada? E por que as pessoas não renascem na convivência com os outros? Por que elas continuam enxergando uma verdade única, uma maneira única de ser e existir?
Durante todo o ano, muitas foram as notícias de pessoas espancadas. Torcedores, homossexuais, mulheres, crianças, cachorros. Fazendo um balanço, a gente percebe que é mesmo muito difícil amar-nos uns aos outros como se fosse a nós mesmos. Talvez o problema seja justamente esse. Essa frase me soa meio mal. Talvez funcionaria melhor se a gente amasse uns aos outros como se eles fossem eles mesmos. Ou talvez a gente poderia entender que amar um ser humano é amá-lo porque ele é um representante do que nos faz continuar existindo na Terra. Não porque eu gosto dele, mas porque ele merece.
E se alguém me disser que nem todos fazem por merecer, e se esse alguém se diz cristão, olha, eu que não sigo religião alguma, tenho mais compaixão que isso. Compaixão pela existência de uma subjetividade. Pela existência de uma diferença que só parece maléfica porque a gente insiste em um ideal de bondade. Existem pessoas que fazem mal às outras pessoas no mundo. Existem sim. Me apavoro com isso. Mas me apavoro muito com o tamanho do ódio, da raiva e com o sentimento de retaliação que eu vejo nas 'pessoas de bem'.
Nesse natal e durante todo o ano, quero pensar nos meus preconceitos e nas coisas que eu ainda faço que separam as pessoas em boas e ruins. E quero tentar desconstruir isso pouco a pouco. É meu desejo, então, para o ano que vem e para todos os outros. Feliz nascimento! Feliz renascimento!