Sou dessas pessoas que se apega às lembranças. Qualquer ruptura é difícil. Bom seria se as pessoas, quando fossem embora, ensacassem junto com o amor delas as lembranças. Aquela lembrança da noite em que deu um trovão muito forte e que eu tinha onde me agarrar. É porque sem aquela lembrança, talvez fosse mais fácil ouvir trovões de madrugada sem me assustar muito.
Não é que eu tenho medo de chuva, ou de tempestade. Eu tenho medo do que eu sinto quando, num impulso, o que eu agarro é um travesseiro.
Sabe, eu achei que seria bem mais fácil continuar. Só que não é, não vem sendo. É porque eu ainda acredito naquela imagem, naquela pessoa que eu conheci, nos sonhos, nos planos, nos grandiosos objetivos. Não é que eu tenha deixado de acreditar, sabe? Acho que o sonhador que deixou, e aí, como se sustentam os ideais? Os meus ideais precisam de contrapartida. Os de quem não?
Se você me acusa de não ter te apoiado, eu digo que essa é uma acusação das mais injustas. Eu apoiei por muito tempo. Eu justifiquei para mim mesma, para os outros. Inclusive para os seus outros.
Sei que já disse isso, mas agora é sério. Sempre levo adiante meus propósitos. Cheguei aqui porque não desistir nunca é uma das minhas propostas. E essa é séria. Daqui pra frente sou eu. Sempre vou ficar triste pelo fato de as pessoas deixarem de existir sem terem a fineza de levarem as memórias, mas feliz por ter feito tudo o que estava ao meu alcance.
O problema é que as memórias são de quem fica. Não são dos que foram. É errado a gente acusá-los, mas é mais fácil do que admitir que a gente não quer que a vida siga.