Sempre que volto, guardo tudo. Roupas dobradas nas gavetas, estendidas nos cabides. A maquiagem nunca fica na necessaire, mas na gavetinha do banheiro. A necessaire volta para a gaveta de baixo da maquiagem. A mala, junto com o cobertor de viagem eu deixo no meu baú. Os sapatos que levei, voltam pras caixas. Roupa suja, vai para a caixa dentro do guarda-roupa.
Não é perfeccionismo, não é ritual. É desconforto. Causa desconforto uma mala semi-pronta, sempre em cima da cadeira, pronta para ser feita mais uma vez. Anos atrás, eu fazia assim. Chegava de viagem e tirava só o que precisava ser tirado para lavar, as coisas que acabavam indo sempre ficavam ali, à espera de mais uma vez embarcar. A mala nunca guardada e eu nunca sossegada.
Quase como um fingimento de mim para comigo mesma é o fato de hoje toda mala ser desfeita, tudo voltar pro seu lugar, como se não fosse verdade que, três dias depois, eu preciso tirá-la de novo. Só que existem outros indícios, outras pistas que me denunciam sobre o meu próprio fingimento: é que não tem comida na geladeira. Comida na geladeira é coisa para quem fica, não para quem vai e vive indo. Minha comida, compro todo dia na padaria, porque é melhor não deixar nada que possa estragar, que não possa ser guardado de uma semana para outra.
Já comprou presunto por fatias? Eu já.