Coincidentemente, a história do porteiro que me identifica como a Angela solteira e a da vizinha que se identifica com a minha solidão, aconteceram alguns dias antes do dia dos namorados. Eu poderia ter deixado quieto e não fazer nenhum comentário a respeito. Mas eu acho que as coisas acontecem por razões pré-determinadas e agora, estamos aí, a três dias do 12 de junho.
Antes de falar sobre isso, eu queria dizer aos que falaram ou pensaram que eu sou solteira e não sozinha, que eu sei disso. Nunca pude reclamar de falta de companhia para nada nessa vida. Até uma amiga que gosta de visitar cemitérios, como eu, eu tenho (acho até que tenho duas). Existe uma diferença fundamental entre você decidir fazer algo all by yourself porque você gosta da sua companhia e você ir ao cinema chorandinho, pensando no quanto você é renegado pelos seus amigos e mal-amado. Eu não sou disso, deixemos claro.
Agora, sobre o dia dos namorados...Eu poderia dizer que não me importo. Não lembro o que eu fiz no ano passado nesse dia, mas é provável que eu tenha ficado em casa. No ano anterior eu namorava, mas meu então namorado morava longe de mim, assim como no ano antes desse. E no ainda antes desse, eu não namorava. Ou seja, faz tempo que o dia dos namorados não é nada de mais.
Eu poderia dizer que é só uma convenção social; uma data comercial; que pouco me importa; que eu vou ME DAR um presente de dia dos namorados, tamanho meu amor-próprio. Mas tudo isso seria um monte de subterfúgios. Desses que pessoas solteiras usam para não se sentirem assim, tão solitárias em um dia em que tudo é para dois. Não bastassem as promoções de viagens do peixe urbano serem sempre pra dois e você não comprar nunca, por mais que te interessem, porque fica pensando quem iria com você.
Acho perigoso escrever isso a três dia do 12 de junho, mas lá vai. Há uns dias atrás eu estava conversando com uma amiga sobre esses assuntos errantes que são os que se tratam das tentativas de gostar de alguém e ela me disse que para essas situações, a gente não pode confiar em conselho de quem tem namorado. É que essa pessoa já não entende mais pelo o que a gente passa. Ela tem outro código de conduta "certo e errado" a seguir, agora que ela tem namorado. Logo, por mais que as amigas comprometidas sejam queridas, amadas e companheiras, vai faltar a elas uma compreensão muito básica do que a gente sente. Pra ela, pode não ser NADA tudo ser servido para dois. Para ela, pode não ser nada decidir ir ao cinema domingo à tarde. Para nós (em nosso dileto clube), não é assim.
E por mais que elas digam que sabem como é, porque já fizeram parte do clube, isso não quer dizer nada. Isso não dá a elas capacidade de compreensão da situação alheia. Isso que acontece no dia dos namorados só é um superlativo do que acontece todos os dias, todo domingo entediante que você resolve ir ao cinema. Sei que soa como amargor e que as pessoas não gostam muito de ouvir a verdade. Especialmente as pessoas que saíram (ou nunca entraram [vai dizer que você não tem aquela amiga que não sabe o que é estar solteira?]) do
polígono da solteirice.
Mas estamos aí. Esperando ansiosamente pelo 12 de junho.