Esses dias atrás, minha amiga
Fernanda veio almoçar aqui comigo e com a dona Simone, a mais nova moradora curitibana. Eu e Simone esperando, quando ela liga e me pergunta que andar eu moro e respondo que é o segundo. O porteiro a havia mandado subir no décimo terceiro, pois é. Aí eu contei pra ela que no prédio tem uma outra moradora com meu nome, coisa que descobri porque uma vez quase peguei uma encomenda dela.
Terminando o almoço, formigas que somos, fomos atrás de açúcar, e o porteiro, quando nos viu passar, decidiu pedir desculpas para a Fer, provavelmente porque a viu passeando de elevador. Aí ele diz que achou que ela tinha ido visitar a Angela casada e não a Angela solteira. Quer dizer...
Foi aí que eu fiquei sabendo que ele faz justamente essa diferenciação. Ele poderia nos diferenciar por uma ser loira, a outra morena. Por uma morar no segundo, a outra no décimo terceiro. Poderia nos diferenciar pelo nosso sobrenome, veja só! Dizem que sobrenomes servem justamente pra isso. Mas não, ele nos diferenciou porque uma é casada e a outra solteira.
O que indica que os porteiros que trabalham no meu prédio percebem que aqui só vêm minhas amigas. Eles também devem ter notado que eu saio muito pouco. Inclusive esse porteiro é o mesmo que sempre fala "bom trabalho" quando eu saio, e mal sabe ele que quando eu saio, é justamente quando eu não estou trabalhando, é quando eu paro de trabalhar. Ironias da vida.
Semana passada a minha vizinha ao lado, cujo nome desconheço, me trouxe um pedaço de bolo de fubá. Ela também é solteira. Aliás, ela é sozinha, palavras dela quando se mudou. A gente travou aquela conversinha cordial de vizinhos (eu costumo ser cordial com meus vizinhos) e ela disse com todas as letras: "como nós duas somos sozinhas, qualquer coisa que você precisar, pode bater aqui". Ela não está tão errada, porque se a Simone não tivesse ficado aqui em casa semana passada, eu teria pedido pra essa vizinha me ajudar com o curativo que eu tinha que fazer nas costas por conta de uns pontos que levei.
Hoje fui devolver o prato e ela me convida pra jantar e comer um feijãozinho gostoso que ela tinha feito. Recusei educamente, dizendo que não me faz bem jantar. Baita mentira, adoro jantar, mas não curto a identificação que ela tem comigo, porque ela tem quase 60 anos. Acho que dá pra entender porque eu não quero ter uma amiga de 60 anos que também deve ser identificada pelo porteiro como solteira, ou pior, com o aumentativo dessa palavra. Medos de gente que está prestes a completar 30 anos.