Tem dias que o mundo me incomoda muito. Quinta feira foi um deles. Veja, isso que eu vou contar pode não ter sido bem o que eu entendi, pode ter sido um engano, mas quando aconteceu, eu pensei: "Sério? Por causa de três reais?"
Era aniversário de uma amiga e não tive tempo de sair para comprar um presente. Como todos gostam de ganhar sabonetinhos e creminhos, fui buscar alguma coisa cheirosa na casa da minha irmã, que estoca essas coisas da natura. Só que eu não tinha um pacote de presente e é muito chato dar presente sem pacote, acho de uma indelicadeza...
Enfim, tava na hora de eu ir trabalhar e eu não achei nada em casa para empacotar. Minha mãe sugeriu que eu passasse por uma lojinha aqui perto de casa, caminho para a faculdade e comprasse ali. E eu achei boa ideia. Entrei e pedi para a senhora, dona da loja, algo como uma caixinha, alguma coisa que coubesse um hidratante e um sabonete líquido. Ela me mostrou uma caixinha, bem fofa. Perguntei quanto era e na lata ela me respondeu que era tanto.
Achei tanto meio caro, até por não ser dessas caixas que você reaproveita e tal. Mas a pressa me fez tirar o valor da carteira e sair correndo. Quando comecei a montar a caixinha, vi uma etiqueta com um preço nela. E era pouco mais de três reais mais barato.
Fiquei chateada. Não por causa dos três reais e poucos centavos, não vou ficar mais pobre por causa desse valor. Mas fiquei chateada porque tampouco ela ficaria mais rica. Achei tão desnecessário e lembrei como ela nem olhou pra caixa antes de me dar o preço. E eu estava com uma pressa perceptível. No fim, eu não coloquei o presente lá dentro. Sei lá, não parecia um bom lugar pra colocar um presente. Fiz um pacote com um papel que minha irmã tinha, coloquei uma fita e ficou bonitinho.
No outro dia contei para a minha mãe o que tinha acontecido. E minha mãe é o tipo de pessoa que não aceita essas coisas. Lembro quando eu era criança e ela me mandava no mercado e sempre falava para eu ficar atenta para não acontecer nada disso. Meu pai disse pra deixar pra lá, mas ela ficou muito chateada, especialmente porque, um dia antes, ela me ouviu falando ao telefone a frase "ah, mas eu não acho justo". Ela perguntou o que eu não achava justo e eu disse que era receber por um curso que meu nome constava como uma das coordenadoras, mas eu não tinha ajudado a coordenar, só tinha dado uma aula, eu só queria receber pela aula.
Ela foi lá dizer pra senhora que ela tinha se enganado. Não era pelo dinheiro, mas era pra mulher ficar com vergonha, caso tivesse feito de propósito. Talvez seja ingenuidade nossa pensar que, se ela fez de propósito, ela ficaria com vergonha. A mulher conferiu em outra caixa igual e devolveu o troco. Quer dizer, quase. O troco do valor que eu paguei daria três reais e poucos centavos. E uma coisa que aconteceu me fez ficar mais triste por daí sim acreditar que a coisa foi proposital: ela deu o troco a mais.