Anotação mental: tudo o que você se propõe a fazer na vida tem ônus e tem bônus. Se você não consegue lidar com um, ou com outro, essa não é sua praia.
Não entro em confrontos gratuitos, não entro em disputa de poder, não discuto com quem é incapaz de se perceber em algum momento equivocado. É perda de tempo e é entrar em loucura neurótica (e essas são as piores).
Já trabalhei em vários lugares e em todos eles, mas em todos eles mesmo, em algum momento parei e pensei: estudei tanto pra ouvir isso? Chego em casa e uma amiga relembra uma frase que eu costumava dizer: vejo de tudo e não morro.
É que vivemos um tempo de falta, minha gente: de educação, gentileza, vergonha na cara, limite, respeito...A lista é longa, poderíamos brincar de adicionar coisas eternamente. Mas ultimamente tenho sentido falta da compreensão. Compreensão tem vários tipos e para todos os gostos, a que eu estou falando especificamente é a compreensão da importância daquilo que você socialmente se propõe a fazer na sua vida.
Sabe, quando você é dono de uma construtora e um prédio desaba, a sociedade vai cobrar de você. Quando você é um médico e esquece uma pinça dentro do estômago alheio, a sociedade vai cobrar de você. Quando você é um jornalista e distorce os fatos, a sociedade DEVERIA cobrar de você. Quando você é um professor de português (e do meu ponto de vista, de qualquer outra disciplina) fala "pra mim fazer tal coisa", idem. Mais uma vez, a lista é gigante e poderíamos brincar de adicionar coisas eternamente.
Mas quando acontece uma tragédia, como a que aconteceu hoje em Realengo, e psicólogas e psiquiatras aparecem falando baboseiras, repetindo lugares comuns, quem cobra? E isso porque eu tô falando do que aparece na mídia. Imagina que a maioria das coisas a gente não sabe, nem fica sabendo, porque acontece quando a porta está fechada. E muita barbaridade acontece aí, muita mesmo. E tanta coisa eu escuto no meu dia a dia, convivendo com psicólogos, que só me resta fazer a Regina Duarte: eu tenho medo.
Só que acontece que eu sou professora. Que eu ajudo a formar psicólogos. E que toda vez que eu ouço barbaridades ou repetições papagaidas de conceitos e termos, eu lembro que elas passaram anos se "dedicando" para estarem ali. E aí eu repito a mim mesma como um mantra: é de formação que a gente trata, é esse o nosso negócio. Não tem a ver com diploma, esse é um bônus, tem a ver com FORMAÇÃO, essa sim, tem um ônus que não é pra todos, e que pode ser um bônus para alguns: respeito por quem vai recorrer à sua profissão.
Acho que é de ética que eu tô falando. Ou de bom senso? É o que não temos pra hoje.