Hoje fui ao cinema. Tinha combinado de ir ver O amor e outras drogas com duas queridas, mas não rolou no fim de semana, não rolaria no próximo e eu precisava sair de casa. É que eu não botava meus pezinhos para fora desde quinta feira, quando fui à delegacia fazer B.O. do acidente.
A outra motorista veio me buscar. Entrei no carro e ela perguntou como eu estava, se estava dolorida. Uma fofa. Lá na delegacia a gente conversou um pouco, deu pra ver o quanto é boa pessoa. Uma das coisas que ela disse é que ela entende o que aconteceu porque tem maturidade pra isso, e as filhas dela ainda não têm.
Quando ela me deixou em casa, falou pro marido esperar um pouco, ela desceu do carro e me deu um abraço. E eu abracei ela (i'm not a hugger) e pedi desculpas. E ela disse que já tinha passado. E o coração veio na garganta porque poderia sim ter sido pior. Porque eu fico lembrando o tempo todo da traseira do carro dela muito perto e do que eu senti naquela hora e revivo quando essa imagem me vêm: um medo filhodaputa.
Depois eu fui encontrar uma amiga no centro e nós ficamos andando de lojinha em lojinha, fomos até um shopping e de lá voltei pra casa. Não saí mais. Hoje eu acordei sabendo duas coisas, uma era que precisava limpar a minha casa decentemente (só onde o bispo passa não tava dando mais). A outra era que eu precisava sair, dar boa tarde pro porteiro e começar essa semana me dando uma folga que eu não me dou há muitos dias. Eu sou a pior chefe que alguém pode ter. Porque eu trabalhei sábado e domingo o dia inteiro. Li, escrevi e fichei.
Depois de ter terminado a faxina, tomei um banho e fui. No ônibus de todo dia e encontrei uma conhecida que estudava comigo lá em Maringá. Desde que mudei para Curitiba, já deve ser a quarta vez que nós nos encontramos no ônibus, e talvez a segunda ou terceira que ela está voltando do trabalho e eu indo ao cinema. E eu podia ter ido ver um filme mais pesado, tipo Biutiful. Ou um mais movimentado, tipo O turista. Mas eu gosto mesmo é de comédias românticas. É que eu acredito mesmo nelas.
Tem vezes que algumas coisas acontecem na minha vida e eu falo que ela parece uma novela do Manoel Carlos. Mas as novelas do 'Maneco' (odeio quem fala Maneco) são muito chatas. Todo mundo tem muito dinheiro (sem trabalhar) e comem saladas em restaurantes que não mudam. Tragédias tipo câncer e gente paraplégica têm também. E quanto à minha vida, eu não posso estar me queixando, como disse para a simpática moça do seguro do carro que me ligou para estar perguntando se eu estava satisfeita com o atendimento e se estaria indicando o serviço para outras pessoas.
Não, definitivamente, tragédias não acontecem na minha vida. Mas as coincidências sim. Dessas de encontrar pessoas conhecidas no bondinho do pão de açúcar e no metrô de São Paulo. Dessas que fazem aparecer na hora do acidente uma pessoa que gosta de mim e que se importa comigo, como num passe de mágica. Dessas que fazem a minha bolsa do mestrado chegar quando eu já estava quase entregando os betes antes da maria vitória, enfim. E algumas dessas coincidências poderiam ser contadas numa comédia romântica (se bem que as últimas foram mais para 500 dias com ela e Ele simplesmente não está a fim de você).
E aí hoje, como naquele dia do acidente, era pra tudo ter dado certo e deu. Cheguei no cinema na hora certa, comprei uma casquinha de chocolate, fiquei olhando umas fotos, entrei pra ver o filme e fiquei ali percebendo (como sempre percebo) o quanto gosto disso de ir ao cinema sozinha. E observo pessoas que também vão sozinhas, e fico imaginando se pra elas, isso também é um baita programa. Se elas também estão gostando da própria companhia quando deram muita risada numa das cenas do filme que é realmente engraçadíssima. Ou se elas gostariam de ir com alguém.
Quanto a mim, eu gostaria de ir com as minhas amigas. É divertido ver comédias românticas com as amigas. Eu gostaria de ir com um namorado. É gostoso ver comédias românticas com namorados. Mas eu também gostaria de poder continuar indo sozinha e voltar pra casa sem bode. Achando a maior sorte do mundo ter precisado correr meia quadra, mas não ter perdido o circular que tava passando naquele momento, e não achando tão ruim assim ter tomado a chuva que caiu quando desci no ponto. Porque hoje é o último dia de janeiro. E a gente tem que começar o ano tomando chuva, sabe? Pra água levar embora o que tiver de ruim sobrando em cima do ombro, mesmo que isso de ruim seja só o calor.