E aí sempre tem esses dias em que o peito esvazia. Você sabe como é. É quando, sem perceber, você precisa respirar e expirar bem fundo, como se fosse ar o que estivesse faltando. Como se fosse com ar que desse pra preencher aquele buraco. A contradição é que em dias como esses, ao mesmo tempo em que a gente precisa dessas "respiradas" para ver se consegue ficar mais pleno, a gente sabe que está cheia de alguma coisa e essa coisa é angústia.
E quando eu tento me encher de ar, é como se eu quisesse sufocar o espaço de algo que está tomando todo o lugar, que está oprimindo o peito e que, quando alguma coisa ou outra acontece, pode fazer acontecer aquela dorzinha de novo, aquela dorzinha que já foi dorzona e que agora você consegue dar conta, porque deixou as coisas pra lá, porque concentrou suas energias em outras coisas, porque seguiu pensando nos planos que dependem exclusivamente de você e que também te deixam feliz, pelo menos sempre que você não precisa lembrar de respirar fundo.
Outro dia, umas amigas vieram aqui em casa e ficaram admiradas quando eu falei da minha necessidade de deletar as pessoas, de colocá-las em uma pasta inacessível, como se fosse possível riscar os abandonos e as desistências de mim. Só que quando eu coloco pessoas nessas pastas, fica muito difícil não colocar lugares, palavras, músicas, filmes e até outras pessoas. E esse sempre é o meu medo, especialmente quando as outras pessoas chegaram antes da que precisa ser relegada a um plano onde meu coração fica imune à lembrança de ter sido ter sido
deixada pra lá.
E de vez em quando me perguntam: Mas você não pensa mais nisso, não é? Eu faço de conta que não, quando sei que, na verdade, o que acontece é que eu não falo mais e tento não rememorar as coisas tão pequenas e tão poucas. Tento. E tenho conseguido. Mas volta e meia eu preciso lembrar da minha imaturidade e inabilidade em lidar com as desistências dos outros. E aí digo a mim mesma: cresça.