Quando o chega o fim do ano quase todo mundo fica nostálgico. O tempo mais quente, a chuva que deixa os dias um pouco mais frescos e o sol que volta logo depois que passa a chuva, só pra contar que fica mais bonito quando é assim que acontece. Eu, particularmente, fico muito saudosa nessa época, especialmente porque os fins de ano tem marcado algumas despedidas. Em 2007, foi o fim da faculdade, em 2009, terminei uma especialização e nesse ano estou terminando outra. E hoje, conversando com uma querida que fez essa pós comigo, eu comemorava a última viagem depois de três anos.
Enquanto eu dava pulos de alegria, ela disse: "Mas você vai sumir". Eu perguntei: "Mas como assim?", e ela respondeu, "Uai, eu não vou mais ver você". Eu ri, e disse que isso não dava pra prever. É que nem eu e nem ela temos certeza se esse laço vai se manter daqui pra frente.
Aí eu disse uma coisa que eu percebi nos últimos anos. Quando penso em algumas pessoas que foram muito importantes para mim em uma época da vida mas que, quando chegou um momento de decisão, os caminhos ficaram tão paralelos, vejo que a gente se perdeu. Então, eu disse que o que eu percebi nesses anos em que mudei de cidade algumas vezes - Guarapuava, Ponta Grossa, Maringá, Guarapuava, Curitiba, sem contar o pulo em Buenos Aires - é que é preciso sempre duas vontades para duas pessoas não se separarem. Se forem três pessoas, três vontades, e assim por diante.
Quando eu cheguei em Curitiba, entrei em contato pelo orkut com uma amiga que havia sido muito importante e com quem eu não falava fazia muitos anos. Mandei um scrap, ela respondeu, contei que estava morando aqui, ela disse que queria me ver. Mandei um depoimento com meu telefone, que ela não apagou até hoje. Isso foi em abril. E ela não me ligou. Se fosse há dez anos, há cinco anos que seja, isso me deixaria profundamente triste. Não fiquei indiferente, não se trata disso, mas é que eu entendo que às vezes a vontade não é forte o suficiente para, do nada, você deixar entrar de novo na sua vida uma pessoa do passado. Tanto passou, não é? Tanto mudou. Será que a gente ainda se conhece. Acho que não.
Bom, algumas pessoas entendem mais de reunir as vontades do que as outras. Algumas pessoas estão dispostas a pagar o esforço, porque é bem trabalhoso manter as pessoas por perto. Eu tenho a sorte de ter encontrado várias que tem vontades que combinam com a minha. Uma delas faz aniversário hoje e, ainda que eu quisesse muito tomar uma heineken com ela pra comemorar essa data (que eu tenho certeza que nesse ano é diferente das outras, porque nesse ano ela terminou a faculdade e só Deus sabe o quanto ela queria terminar a faculdade), eu não posso, porque hoje estou em São Paulo, também comemorando.
Antes de viajar, eu pensei que precisava contar pra essa minha querida o quanto ela é importante pra mim e o quanto eu penso nela nos meus dias. Especialmente, o quanto ela faz falta. E aí, a conversa que eu tive com a minha amiga da pós me fez lembrar dela. É que MUITO do que eu aprendi sobre vontade, foi com ela.
Quando eu me formei e fui embora, ela ficou. E outras ficaram e eu perdi a vontade. Eu não quis fazer o esforço. Ainda assim, um dia, me sentindo muito injustiçada, mandei um e-mail para várias pessoas querendo saber porque ninguém mais me dava bola. Eu recebi várias respostas. Todas as que eu precisava e sei que todas muito sinceras. E acho que a primeira foi a dela. E o que ela me disse colocou os pingos nos is, e me mostrou, sem agressividade, que quem não teve vontade tinha sido eu. Esse e-mail não foi escrito em tom de cobrança, não. Mas de constatação. E o fato de ela ter me respondido dessa maneira deixou as portas abertas, ou pelo menos destrancadas e, quando depois de entender que eram necessárias a minha vontade e a dela para a gente continuar existindo uma na vida da outra e não sumir, eu percebi que podia ter colocado a perder muitas preciosidades da minha vida, incluindo ela.
Já faz algum tempo isso e eu sei que essa minha amiga, essa querida, ela não é de melodramas como eu, e que por isso eu não preciso agradecer por aquele e-mail. Eu sei que não preciso agradecer pela porta ter ficado destrancada. E eu sei porque ela me conta isso todo dia sendo minha amiga. Por isso, dona Simone, não vou agradecer, sei que tinha a tua vontade falando alto também, como ela existe até hoje. Mas vou desejar toda a felicidade do mundo e muito, muito sucesso nesse teu novo ano, porque não é todo ano que a gente se forma em engenharia, nem que a gente tem que sair por aí dando a cara a tapa pra procurar emprego. Então, aproveita esse teu rostinho bonito, teu diploma em mãos e vaza! Aqui tem cama pra você sempre!
Ah, e me faz um favor: coloca Spaceman pra tocar, canta e dança bem alto. Porque foi você que me mostrou que Killers era legal, e essa música é a que eu mais gosto!