Nos três anos em que passei viajando para São Paulo uma das coisas que mais me incomodava era pegar o metrô. Veja bem, ônibus lotado também é muito ruim e eu não acho que em São Paulo haja mais desrespeito por parte das companhias de transporte do que nas outras cidades. Se você precisa usar um ônibus em horário de pico, sinto muito.
Só que, na minha opinião, nada se compara ao metrô lotado. Lembro que na época da campanha, o Serra costumava falar muito sobre a ampliação da malha do metrô em São Paulo (o que eu acho muito bacana). A economia de tempo que um metrô possibilita, quando comparado a andar de ônibus em uma cidade em que o trânsito na superfície é bem complicado, faz uma boa diferença. No entanto, todas as semanas, quando eu tinha que, lá pelas 17h30, trocar de trem na estação Paraíso, pensava: "ainda bem que eu não tenho que enfrentar isso todo dia".
Mas olhando pro rosto das pessoas cansadas, voltando do trabalho, depois de muito provavelmente terem acordado bem cedo, eu sempre pensava que elas tinham que enfrentar aquilo todo dia. É a realidade delas. A passagem custa R$ 2,65 e ano que vem vai aumentar. No entanto, se você precisa usar o metrô em horário de pico, as chances de você estar a uma distância desconfortável, para não dizer vexativa e inconveniente da pessoa ao lado são grandes.
E aí existem os assentos preferenciais. Oito por vagão, segundo
essa reportagem que relata um incidente entre duas mulheres porque uma delas recusou-se a sair do assento preferencial. Veja, esse nome "preferencial", indica que ele não é obrigatoriamente destinado a determinadas pessoas, idosos, deficientes, gestantes, pessoas com crianças no colo, mas, no caso de entrarem pessoas com essas características no vagão, o assento é destinado a elas.
Esse assunto é batido, o Fantástico já fez reportagem mostrando como os paulistanos levantam para dar lugar para os outros. Mas eu aposto que quem anda diariamente nos metrôs de São Paulo presencia o contrário constantemente, assim como vivencia o calor, o desconforto e muitas vezes o constrangimento. E aí eu fico pensando o seguinte: "Por que os assentos preferenciais?". E o meu ponto de vista é que eles não PRECISARIAM existir.
Os assentos com cor diferenciada destinados às pessoas com as qualidades que eu falei acima existem para garantir o que a boa educação ensina; que se você é jovem, anda com suas duas pernas, enxerga com seus dois olhos, não carrega um bebê nos braços, você pode sim ficar durante 20 minutos em pé. Quem não fica muito mais quando vai a um show, quando bate perna no shopping, quando vai ao estádio? Assim, eles existem e devem ser respeitados, mas a gente não deveria ceder o lugar por princípio? É bom senso, respeito? Educação? Mas é aí mesmo que está o problema? Só nas pessoas?
O contra-argumento vem à minha cabeça: essas pessoas que usam o metrô trabalharam o dia inteiro, acordam cedo, provavelmente têm outra condução para enfrentar antes de chegar em casa. Elas não merecem ir sentadas, assim como aqueles para os quais os assentos com cor diferenciada foram destinados? Claro que merecem.
E aí, eu só consigo pensar naquilo que eu já pensava quando tinha que pegar o metrô sentido Tucuruvi só uma vez por semana: é falta de respeito com as pessoas, é falta de respeito com o dinheiro que as pessoas e empresas pagam pelas passagens. É exemplo de má administração e descaso.
PS: Para os maus entendedores, eu não acho que a mulher que não levantou estava certa, mas continuo achando a quantidade de pessoas por vagão um desrespeito com ela e com todos ali presentes.