Ontem eu esqueci as chaves de casa dentro de um banheiro. Eu não sei porque estava com as chaves de casa nas mãos. Mas lembro de ter entrado no banheiro carregando jaqueta, bolsa e as chaves. O banheiro era nojento. Larguei as chaves em cima da pia e quando saí, apressada, elas ficaram, e eu só me dei conta a hora que cheguei em casa e não as encontrei. Eram umas 22h.
O engraçado foi que eu não fiquei preocupada. O porteiro me deu o telefone de um chaveiro que não atendeu. Aí eu liguei pra minha amiga: "Esqueci as chaves no meu trabalho", ela riu e respondeu,"Vem dormir aqui". Cheguei, tomei um banho, coloquei um pijama emprestado. Dormi como um anjo e hoje cedo telefonei para o trabalho, encontraram as chaves e na hora do almoço elas estavam comigo.
Mas o que eu fiquei pensando foi na minha despreocupação. Numa despreocupação que só pode acontecer quando se tem várias casas para ir. Quando não se está sozinho. Tem dias que eu me sinto sozinha e penso um monte de bobagens. Mas quando acontece algo assim e eu sei exatamente para onde eu vou, não tem como me sentir só. E aí eu estava pensando que se essa amiga não estivesse em casa, restariam nem uma nem duas, mas pelo menos uma meia dúzia de casas para eu ir. E nessas horas eu fico aliviada.
Deve ser por causa disso que foi tão fácil me mudar. Valorizar essas "minhas pessoas" é o ponto principal da minha vida hoje. Qualquer escolha que coloque em cheque meu relacionamento com elas, não me serve mais. Quando você esquece a chave em uma outra cidade, num lugar que fecha às 18h, você não deveria ter que ficar preocupado em gastar com um chaveiro. Deveria ter onde passar a noite sem se preocupar se está incomodando.