Desde que comprei um guarda-chuva decente, não suspiro mais quando olho para fora e prevejo um dia chuvoso. Hoje foi um desses dias que choveu da hora que eu saí de casa, até a hora que eu voltei, apesar de o sol do fim da tarde bem ter tentado, de um jeito muito, muito tímido, aparecer para dar o ar da graça, tarde demais, manchas de bolor já começavam a se formar em mim.
E eu estava de tênis, mas por pura falta de opção. Quem já andou em Curitiba sabe, é uma puta ousadia colocar um salto alto se você tem que percorrer mais que dois quarteirões por estas calçadas de paralelepípedos. E número de quadras que separa a minha casa da UFPR é pelo menos dez vezes maior que isso. Não tô reclamando, gosto dessa caminhada. É aquele momento que eu coloco os fones e vou cantarolando, pensando na vida e arrumando na minha cabeça tudo o que eu tenho para fazer.
Diante da chuva que caía quando eu saía, o porteiro me pergunta
"Vai sair com essa chuva?". Respondo que não me resta outra escolha, me encho de coragem, abro o guarda chuva e saio. Vou andando devagar para que as calças não molhem (muito). Os tênis não tinham salvação quanto a isso, e por isso, meus pés estavam fadados a ficar molhados e gelados. Andando e cantando na chuva, percebi que quem anda para lá e para cá e que não tem outra escolha em dias de chuva, precisa mesmo é de um bom par de galochas. Voltei para casa decidida a comprá-las, coisa que acabei de fazer, e agora espero ansiosamente meu pedido ser processado e as
galochas chegarem na minha casa, cheirando a novas, num prazo de um dia útil (uma das coisas boas de se morar numa capital).
Mas além de pensar em galochas, esse dia insistentemente molhado me fez perceber que chuva é um momento ideal para se medir o nível de gentileza das pessoas. Tem aqueles carros que fazem a curva mais devagar, sabendo que se entrarem muito rápido vão dar um banho nos pedestres que esperam o semáforo abrir. Tem aquelas pessoas que param quando percebem outro guarda-chuva vindo na direção contrária e que, se os dois tentarem passar ao mesmo tempo, vão se enganchar. Há ainda, os mais generosos que percebendo não ser fácil carregar bolsa, guarda-chuva e sacola de compras ajudam a gente a subir no ônibus.
Eu prefiro não falar dos não generosos hoje. Melhor não reclamar deles e parar o post por aqui desejando que em outros dias de chuva, eu encontre mais gentileza e menos individualidade de quem quer evitar de se molhar, não importando quantos outros se molhem a estas custas.