Não é fácil ir embora. Arrumar as malas, juntar tudo. Anos de lembranças, que acabam reunindo muito mais do que a gente imaginava. Você pode até pensar que não tem muita coisa, que poderia arrumar as malas em duas horas. Mas uma mudança leva muito mais tempo do que isso porque exige uma reflexão absurda, afinal, do que mesmo que a gente precisa para sobreviver, ou para sentir-se em casa? O que é indispensável e o que pode ficar pra trás?
Algumas dessas despedidas são mais fáceis do que outras. Esvaziar um quarto, mesmo que seja para ir para um bom lugar, para novos caminhos é difícil para caramba. Mesmo que você estivesse de saco cheio, as raízes estão ali. Toda alegria e tristeza que você passou ali, de uma forma muito sutil te prende aos lugares. Por isso que é difícil ir embora.
Mesmo que não seja a primeira vez que você vai partir e que a lista de cidades por onde você já esteve continue aumentando, a cada partida, uma sensação esquisita de abandono toma conta. Abandono do que? De quem a gente foi até ali e não vai ser mais. Mesmo se um dia voltar. Os lugares nunca são os mesmos porque a gente muda demais. Deve ser por isso que aprendi a me apegar pouco a eles, preferindo guardar as pessoas, as lembranças e a saudade.