Recomeçam as viagens e, com elas, as anedotas das quais participam pessoas que encontro, cenas inusitadas que vejo e pensamentos esquisitos que são mais comuns quando estou sozinha.
Conheci uma senhora interessante e atirada e deve ter sido por isso que ao invés de dizer que meu nome é Mariana e que eu faço letras, eu disse que meu nome é Angela, sou psicóloga e viajo semanalmente de Guarapuava para São Paulo para fazer uma especialização. Essas informações foram dadas na fila da passagem e me renderam uma companheira de viagem e a impossibilidade em dizer "não" quando ela pediu para eu comprar a passagem ao lado (logicamente, a poltrona de número dois).
Normalmente eu sou evasiva nessas situações, mas algo nela me fez dar uma atenção fora do padrão e depois, foi impossível não responder às perguntas dela e pior, não fazer perguntas a ela, porque as histórias eram realmente interessantes, além de ela ser um doce! Esperou eu ir ao banheiro, foi lanchar comigo, ofereceu o celular para eu avisar minha amiga que estava a caminho e me cobriu com o cobertor dela, apesar de eu ter meu próprio cobertor.
Ela trabalhava na roça, em uma cidadezinha aqui perto, casou e trabalhou fazendo bolos, doces e salgados, carpindo terrenos, limpando casas, para ajudar o marido a se formar e depois para ajudá-lo a formar os filhos. Um deles trabalha hoje como chefe de uma equipe da Microsoft em Seatle e o outro na Itaipu. Agora que ela não precisa mais trabalhar, é voluntária num hospital para pacientes com câncer e vai todo mês para São Paulo abrir e limpar o apartamento do filho.
Ela tem uma casa que ela e o marido fizeram sozinhos. Apesar de hoje morarem em outro lugar, não consegue se desfazer dessa primeira, pelo valor sentimental e talvez, penso eu, por ser o resultado concreto de muito trabalho. Nessas situações, eu fico feliz por ter dado trela a essa senhora e fico pensando nas coisas que ela me disse sobre a importância de insistir em conseguir, especialmente se o que queremos é o que desejamos. Ela não disse com essas palavras, mas gosto dessas pessoas que entendem a sutil diferença entre essas duas coisas.