Ano retrasado e ano passado aconteceram coisas na minha vida que me deixaram magoada, incomodada, culpada, ressentida. Eu não consegui expressar nem aqui, em lugar nenhum e para ninguém. Tentei, mas o sofrimento era tanto que a busca por coisas para ocupar a mente era maior do que a tentativa de refletir e de buscar refúgio nos outros. Para fugir, resolvi fazer duas pós-graduações em cidades diferentes. Uma delas me rende viagens semanais de mais de nove horas há dois anos (e estou indo para o terceiro). Eu precisava não pensar, então eu me ocupei.
Em 2009 as coisas melhoraram muito. Comecei a trabalhar no que eu gostava, me aventurei com o consultório, tive excesso de trabalho na faculdade e ainda fazia aquelas duas especializações. Eu não tinha tempo ano passado, essa que é a verdade. Não era eu quem procurava o que fazer, as coisas por fazer me encontravam e sempre que eu pensava a respeito dos problemas relacionados às mudanças, às minhas amigas, ao meu então namoro, eu pensava "agora não dá pra resolver isso", deitava a cabeça no travesseiro e dormia.
Coisas difíceis de escutar foram ditas, cobranças difíceis de engolir foram feitas. E eu não me eximo de nenhuma delas, apenas questiono onde esteve a franqueza na hora certa. E aí eu pensei nas minhas amigas e na capacidade que elas têm (e eu me incluo aí) em deixar para lá e abrir os braços. Em receber o filho pródigo.
Ainda essa semana rolou uma conversa sobre o assunto, e eu fiquei feliz em ter ouvido a afirmação unânime de que, mesmo diante de um afastamento por razões geográficas ou emocionais de alguém, quando essa pessoa perceber seu erro, admiti-lo e pedir desculpas, a porta está aberta, porque é isso que amigas fazem. E aí me lembro que mesmo vindo muito pouco para casa e mesmo tendo me afastado durante a faculdade, nunca fui tão bem recebida em um lugar do que quando voltei pra cá.
Eu só espero continuar tendo a habilidade de fazer isso. E torço ainda para que aquilo que se perdeu, se restabeleça um dia novamente. Porque admitir erros e pedir desculpas, isso eu já fiz. Eu só não sei se vou ser bem recebida. Se a porta tá aberta ou se os ressentimentos persistem. E aí eu me calo.