Se eu tivesse que definir meu estado de espírito hoje, diria que ele está saudosista.
Isso começou segunda feira com um pé de amora carregado. Nunca resisto a um. Lembro do que existia na clínica da uem e do dia em que eu e as meninas colhemos várias, até uma escada emprestamos, demos boas risadas. Acho que se permitir perder alguns minutos catando amoras, faz o tempo voltar na época em que não havia muitas preocupações (além de satisfazer a vontade de uma frutinha que não é das mais comuns, mas que é tão gostosa).
Outra coisa que lembrei foi do campeonato de balonismo que aconteceu em Maringá quando eu tava no quarto ano da faculdade. Não é todos os dias que mais de vinte balões sobem ao céu. Uma dança colorida, tão bonito. Da janela do minha casa, os balões passaram tão perto, e eu e a Bianca tentamos, mas a gente precisava olhar, era mais importante não deixar passar aquele momento ao vivo, e quando vimos, já era tarde.
É uma foto que vai ficar na memória e que, a menos que eu consiga aprender a pintar, nunca vou conseguir reproduzir. Mas imagine você, na sua janela, e balões começam a passar com a maior tranquilidade, como se fizessem parte daquele céu todos os dias.
Isso também me faz voltar no tempo, na época em que um dos meus filmes preferidos era sobre uma menina que queria voltar pra casa, um leão que estava atrás de coragem, um robô procurando um coração e um espantalho desejando um cérebro. E quando eles se deram conta que já tinham tudo isso, foram embora em um balão.
Na realidade eles já tinham tudo o que desejavam, mas não conseguiam reconhecer. Quantas vezes isso acontece com a gente? Tantas vezes os outros precisam esfregar na nossa cara nossas virtudes. Nos últimos dias, eu venho me sentindo perseguida por uma bruxa do oeste bem malvada, mas espero que logo ela vá embora e que a bruxa do leste, mais boazinha, volte. Essas duas bruxas são a nossa briga interior com nossos desejos e boicotes. Nunca tinha parado para pensar no Mágico de Oz dessa forma, mas foi um filme que fez parte da minha infância, como as amoras, frutas difíceis de encontrar, como os balões, sonho de criança andar em um.
Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente
Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre sem saber
Que o pra sempre sempre acaba
Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém só penso em você
E aí, então, estamos bem
Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz...
Estamos indo de volta pra casa