A primeira noite depois que eu me despeço dele novamente é de silêncio. Um silêncio louco, latente, que fica gritando dentro de mim. Normalmente, nessa noite, por maior que seja o sono, demoro a dormir. Não consigo pensar em outras coisas, conforme ele me aconselha, nem fingir que nos encontraremos na próxima semana, como uma vez ele me ensinou. Não adianta, a primeira noite depois que eu me despeço é de angústia.
Mas já não foram tantas despedidas? Já não nos acostumamos com a saudade, com a falta que o outro faz no cotidiano, nas risadas pelas bobagens da vida? Nunca. Talvez a graça do nosso relacionamento esteja justamente aí. Não nos acostumamos à falta e por isso continuamos nessa busca incessante pela presença.
Hoje já não me deixo enganar pela distância dos quilômetros, apesar de justamente essa ser a que espanta aqueles que não me conhecem, ou que não o conhecem. Dessa distância que se resolve assim por ar e por terra eu não tenho medo. O que me apavora é a distância entre dois corações, entre dois sentimentos. E essa, nunca existiu. Digam o que quiserem, pensem o que pensarem. Nos últimos quatro anos, essa nunca existiu. Eu e ele sabemos disso. E isso basta.
Tenho ouvido frases parecidas com "nunca entendi seu relacionamento", como se relacionamentos fossem passíveis de compreensão. Nunca entendi como o Universo se formou, no entanto, aqui estamos todos nós.
Na primeira noite depois que eu me despeço dele o silêncio vem para fazer gritar essa dor que de tão crônica, tornou-se hábito. Nessa primeira noite é quando eu me faço aquela pergunta mesquinha: Será que tudo isso vale a pena? E ainda nessa noite, quando eu fecho os olhos e lembro de como ele me olhou enquanto o ônibus ia embora, vem a resposta: Vale.