Tem uma música que eu gosto muito, "Let go" do Frou frou, que fala sobre a beleza do colapso e o quanto o melhor que fazemos diante dele é deixar pra lá, seguir em frente, porque caso contrário, a vida continua caminhando sem nós, mesmo que a gente fique remoendo a própria tragédia dentro de uma bolha, sem fazer ideia como somos realmente.
Tantas coisas acontecem que nos fazem sentir vontade de ficar dentro dessa bolha, de brigar, de reclamar, quando muitas vezes este é um cansaço inútil que não muda vidas, nem rumos, porque quase sempre, o melhor é deixar a vida seguir o próprio rumo.
Não penso que isso seja sinal de passividade ou de ver a banda passar sem participar dela, mas eu penso que há situações que são alheias à nossa própria vontade e contra essas é besteira lutar, tirar a roupa, pisar em cima e chorar como uma criança descontente. Não resolve.
Colapsos são bonitos porque no transtorno e barulho que fazem nos motivam a pensar. Pensar sobre o que pode ser feito, e sobre o que não está a nosso alcance e por isso merece nossa contemplação e espera. E bem sei que esperar é difícil.
O mais engraçado, e isso me faz pensar que talvez eu seja contemplativa demais e que isso me faça muitas vezes me concentrar nas minhas tragédias pessoais, é que pensei em tudo isso por causa de um trovão comprido demais. Literalmente, eu falo sobre o dia em que acordei assustada por ter ouvido o trovão mais longo da minha vida.
O coração disparou e senti um medo absurdo, que nunca havia sentido por causa de uma tempestade. Nessas situações tem sorte quem pode alcançar a mão de alguém que está ao lado e dizer que está com medo e, nesse gesto tão simples, ser abraçada e ouvir que você está assustado porque o trovão foi forte mesmo, mas que já passou, foi só um trovão, você pode voltar a dormir.
Muitos colapsos pessoais são trovões fortes demais. Fazem barulho na tempestade e a tornam mais assustadora. É bom poder estender a mão e ser abraçada. Mas é importante poder fazer isso por si mesmo, levantar, verificar se as janelas estão fechadas, pegar mais um cobertor e esperar o pior da tormenta passar. Isso é ser mãe de si mesmo e a gente precisa fazer quando a mão ao lado não pode nos alcançar.