Hoje senti vontade de chorar. O meu trabalho não é fácil, a doença mental. Não é fácil. Mas a vontade de chorar não teve a ver com a pena que a gente sente devido ao próprio despreparo ou medo de um dia sucumbir a um mundo "alternativo" diante das dificuldades da vida.
A emoção que tomou conta de mim hoje tem ver com o contrário disso. Foi uma sensação boa, essa que sentimos quando gostamos o suficiente de uma pessoa para orgulharmo-nos da capacidade dela. O que me deixou mais feliz foi perceber que o que eu senti, teria sentido por qualquer pessoa na mesma situação.
Um paciente que me questionou sobre a cura, que sentia-se desenganado, que havia perdido as esperanças retomou pelo menos parte da autonomia necessária a encarar o mundo e assumir o próprio desejo. Uma pessoa com auto-estima o suficiente para admirar suas próprias qualidades.
Nunca gostei de Raul Seixas e nunca prestei atenção à letra da mais famosa música dele, mas hoje, quando esse rapaz pegou o violão, começou a tocar e cantar, ouvi e entendi o quanto essa canção é bonita e o quanto foi importante pra ele. Nessa hora se formou aquele nó na garganta, que tive que engolir porque estava trabalhando, mas que me fez pensar o dia inteiro a respeito.
No fim, a música diz muito do que eu falo lá, apesar de usar outras palavras, porque louco, pirado, maluco, e fora da casinha a gente não pode falar. No fim, estamos todos nos controlando para sermos normais, controlando a maluquez misturada à lucidez. Só que alguns conseguem fazer essa mistura melhor do que os outros e são considerados sãos.