No começo do mês eu li "Budapeste", romance de Chico Buarque que conta a história de um ghost writer que, abruptamente, decide de mudar de vida, de cidade e de país: torna-se um zelador em Budapeste, na Hungria.
A história é envolvente, o texto com uma desconexão que nos faz sentir ler pensamentos caóticos, assim como eles vêem à mente pela primeira vez. Restam dúvidas e talvez a ideia seja justamente questionar se nossas vidas, levadas tão à sério, são realmente verdadeiras, ou se vivemos personagens de quem sequer gostamos muito. Angustiante. Isso sem falar no desespero de mudar para um país em que o idioma é o húngaro.
A questão linguistica está muito presente no livro todo. Uma das que mais me chamou a atenção, eu não sei se procede mesmo, ou se foi o Chico Buarque que inventou, diz respeito à palavra usada para pedir desculpas. A palavra "desculpa" não existe em húngaro, e nas situações em que pedir desculpas é necessário, o termo utilizado teria uma tradução parecida com "castigue-me eternamente".
Se isso é verdade, não faz diferença, porque essa forma de encarar a palavra me fez parar para pensar nas pessoas que abusam dos pedidos de desculpas e nas que castigam eternamente àqueles que por alguma razão as ofenderam. Minha mãe diz que "desculpa" é a pior palavra que inventaram, e é adepta do "castigue-me eternamente". Muitas vezes eu também sou e tento me policiar nesse sentido.
Reconheço que pedir desculpas não elimina o ato em si, nem a importância dele, e por isso não deveria ser usado de forma indiscriminada. Mas reconheço também que, ao castigar eternamente alguém, nos tornamos prisioneiros desse ódio. E bem isso não deve fazer...