O Marega era aquele tipo de restaurante que eu tinha medo de entrar. Ficava em um prédio já bem antigo e com aparência não muito boa. As mesas eram cobertas por uma toalha de plástico, dessas que a gordura impregna. Os vidros de vinagre, azeite e sal também pareciam ter sido atingidos por uma camada irremovível de óleo, como se há anos estivessem ali, sem serem incomodados.
Um dia, a Bianca chegou em casa e disse que alguém falou que a comida era ótima. Ela almoçou lá e confirmou: a comida era muito boa! E foi aí que passamos a frequentar o lugar, praticamente todos os dias.
O feijão tinha um caldo grosso, servido em uma cumbuquinha de barro, junto com uma conchinha pequena, com o cabinho torto, a "concha da vó do Fabiano". O arroz era quentinho e solto, a batata frita, embebida em gordura, uma delícia, como também eram o bolinho de arroz, a farofa a e a polenta.
Agora a estrela do almoço, insubstituível, que eu nunca consegui encontrar um que chegasse a altura, era o bife acebolado. Servido em um prato cheio, com muitas e muitas rodelinhas de cebola, todas moreninhas e saborosas, provavelmente por causa da frigideira usada há anos para o mesmo fim.
Nós costumávamos imaginar que aquela comida, para ser tão boa como era, só poderia ser feita a base de muita banha. Fantasiávamos que a cozinheira era uma tiazona bem generosa e sorridente, provavelmente esposa do seu Marega, e tão simpática quanto ele.
Eu uso o plural porque era impossível comer sozinho no Marega. Nós costumávamos ir em bando. As pessoas que não conheciam achavam engraçado e ficavam curiosas pra experimentar aquela comidinha caseira, saborosa, e cheirosa, e quando experimentavam, reconheciam o quanto era boa. Mas talvez, o que nos atraía no Marega não era tanto a comida. Era mais a possibilidade que a gente tinha em, longe de casa, poder comer algo feito com um afeto que dava pra sentir em cada coisinha daquele lugar. Era o lugar em que conversávamos sobre tudo, por muito tempo até depois do almoço, em que um era a família do outro.
Nessa minha visita à Maringá, soube que o Marega mudou de lugar. Encontramos o novo restaurante, lugar amplo, claro, extremamente limpo. As mesas bambas de mandeira foram substituídas por mesas tubulares brancas com granito por cima. As cumbucas de barro e conchas da tortas da vó, foram deixadas de lado para uma bancada self-service. O bife acebolado é frito na chapa na hora, e a cozinha não tem uma cozinheira, mas várias uniformizadas, com toucas e aventais brancos. Agora, até cartão de débito e crédito o Marega aceita.
Eu não gosto de parecer aqueles tiozões saudosistas, mas realmente fiquei triste. Parece que a Maringá que eu vivi durante 5 anos realmente não existe mais. Nem os fregueses do Marega são os mesmos, nem eu sou a mesma. Por sorte, na memória e no coração, o Marega, e tudo o que está relacionado a ele, não podem sair nunca. O que eu senti hoje na hora do almoço, é o que eu posso chamar de o fim de uma era. É o que eu chamo de saudade.