Será possível que a cada ano que passa eu esqueço como o frio dessa cidade pode ser insuportável, do tipo que te impede de pensar? Será que a cada ano, esquecemos quanto foi sofrido o inverno anterior?
Acho que sim. Acho que esquecemos, como esquecemos de como foi difícil passar por alguns problemas, de como foram sofridas certas dores. Deve ser por isso que nossa vida é feita de repetições e constante elaborações.
Hoje eu dei 4 aulas seguidas e não lembrava mais como era difícil e como faz doer a minha garganta falar das 19h às 22h40. Eu havia esquecido como é complicado andar durante as quatro aulas e, dado o cansaço acumulado da viagem de ontem, eu tive que ficar sentada a aula toda.
A parte boa (e essa é uma das belezas do inverno) é que quando eu cheguei na sala, as alunas fizeram uma meia lua com as carteiras, bem próximas umas das outras, bem perto de mim. No fim das contas, nada melhor do que o calor humano pra deixar essa sensação menos congelante.
Chegando em casa, subo as escadas pensando na água gelada que vou usar pra escovar os dentes e pra tirar a maquiagem. Me dá um frio na espinha quando penso na hora de tirar a roupa e colocar o pijama. Daí, meu pai sai do quarto dele e da minha mãe, usando ceroulas, e me fala que deixou o aquecedor ligado no meu quarto: isso é amor!