A cena é típica: um banheiro de balada, um grupo de meninas e, no centro da roda, uma delas chora. O motivo também é invariável e quem já passou pela situação se compadece.
Ontem eu saí e presenciei um episódio assim e fiquei comovida. Uma menina, muito bonita, bem arrumada, bem maquiada, com um vestido lindo, ela chorava, as amigas em volta falando coisas em voz baixa, que não consegui escutar, mas que já imaginava o que eram. Uma delas tinha um papelzinho nas mãos, enxugava as lágrimas com delicadeza, tomando o maior cuidado para não borrar a maquiagem dela.
Essa cena me lembrou uma de "Ensaio sobre a cegueira" em que as mulheres lavam o corpo de uma companheira que morreu naquela parte do filme, uma das mais chocantes, em que os homens trocam comida e água por sexo. É comovente ver como as mulheres podem ser confiáveis.
Eu sei que nem todas, mas confio nas minhas amigas. Quando aquela menina do banheiro chorava, perguntou como estava rosto dela, se olhando no espelho, enquanto eu lavava as mãos. Eu não falei nada, mas dei um sorriso de apoio, do tipo "tá ótima, força na peruca". Uma desconhecida saiu da cabine e falou que ela tava linda e que não valia a pena.
Esse companheirismo que faz com que as mulheres mais desconhecidas se apóiem me comove bastante. É besteira, eu sei. Mas eu já tive que chorar no banheiro, e eu já tive esse apoio das amigas e das desconhecidas.
Ontem eu estava com as minhas amigas mais antigas, essas com as quais eu continuo podendo contar e que falam da minha "falta de tempo" com admiração, sem cobranças. Eu tenho uma sorte grande nisso tudo. Sempre tive alguém com o lenço em mãos, pronta para enxugar as lágrimas e eu sempre carrego um pacote deles na minha bolsa, para qualquer emergência.