Nada mais humano, nem mais histério, que reclamar de barriga cheia. Como me enquadro em ambas categorias me reservo esse direito: Tô cansada pra caralho.
A pessoa passa um ano praticamente em inércia, inércia esta em que as atividades cotidianas se resumiam a ir até a rodoviária comprar as passagens pra São Paulo e/ou Curitiba, voltar pra casa, dormir, estudar, comer, tomar banho e viajar para as especializações.
As reclamações para as pessoas com quem tinha coragem de se queixar eram as mesmas: sentimento de inutilidade, cobranças internas, cobranças externas, vontade de ter o próprio dinheiro para fazer o que bem entendesse.
2009, o ano começa como deveria começar sempre, cheio de coisas boas. Viajei no fim do ano, aproveitei o namorado no Brasil, me diverti, relaxei, dormi sem pensar quando entraria no próximo ônibus, enfim, estava de férias. Até que as coisas começaram a acontecer. Aparece um emprego aqui, uma idéia ali, uma "promoção" acolá.
Enfim, tô atolada até a tampa de coisas pra fazer. Crises de ansiedade na hora de dormir porque fico pensando em cada detalhezinho que eu tenho pra resolver e ainda não resolvi: a mesa de ludo que o marceneiro não entregou, as coisas da faculdade que eu preciso ir atrás e não entendo, a monografia da pós que eu mal comecei, problemas burocráticos com a outra pós, o trabalho no hospital, estressante por si só.
Eu sei que é perfeitamente possível dar conta de tudo isso. Sei que tem gente que, além de coisas assim, ainda têm casa pra administrar, filhos pra criar, marido pra cuidar. E eu aqui, reclamando que preciso de uma secretária pra arrumar minhas malas e comprar minhas passagens porque odeio, odeio e odeio pegar o carro e ir até a rodoviária que, para os padrões guarapuavanos, é longe.
Ou seja, quando a pessoa não tem o que fazer reclama. Quando tem, reclama também. Quanta impertinência.