A vida é dura na maior parte do tempo. Quando você é confrontado com a necessidade de fazer escolhas, infelizmente, vai ter que abrir mão de coisas com as quais está acostumado. O que eu aprendi com a psicanálise, e que no começo me fez resistir a ela, é que desde o início da vida a gente experimenta o amargor de viver.
Isso não pessimismo exagerado. É a vida real. O real é sempre imprevisto, de repente se enfia em frente àquilo que você, imaginariamente, havia percebido, previsto, esperado. O problema é quando esquecemos do real e ficamos curtindo o que poderia ter sido e não foi. Não tem como não ficar descontente.
O real mostra pra mim o tempo todo as minhas impotências. Mas quando a impotência existe e pronto, c'est fini, é tão mais fácil... Difícil é conviver com a possibilidade de transformar a impotência em poder. O poder pegar um avião e confortar um sofrimento que também é o meu, de poder dar um abraço, um beijo e dizer que vai ficar tudo bem. O poder deixa a gente mais frustrado do que não poder.
Quando as pessoas estão separadas e há impossibilidade de se encontrarem, quando não está nas mãos de ninguém, a frustração deve ser menor. Hoje eu posso pegar um avião, desde que eu tenha dinheiro e tempo pra viajar. E as duas coisas são complicadas pra mim.
Por isso, poder e ao mesmo tempo não poder é uma baita desilusão. E aí, diante disso, a única coisa que eu posso fazer é chorar. Não chorar pra conseguir o que eu quero, como se eu fosse uma criança mimada, mas chorar pra permitir a descarga emocional. Chorar de soluçar, porque o meu próprio soluço me sacode e mostra pra mim a dureza do real.