Isso de despedida nunca foi fácil pra mim. Quando eu era criança chorava e via a minha mãe e minha avó chorarem todas as vezes que ela ia embora da minha casa ou quando íamos embora da dela. Em uma dessas vezes, eu e minha irmã ficamos algumas horas chorando agarradas a uma blusa esquecida com o cheirinho dela. Tanto sentimento é porque ela sempre foi uma avó maravilhosa, doce, paciente e que sabia fazer um frango assado gostoso.
Ainda hoje mora longe e ainda hoje sinto o mesmo nó na garganta quando penso nela, apesar de fazer muitos e muitos anos que ela não cozinha mais, penso no quanto seria bom tê-la mais perto.
Desde criança pareço ter aprendido que as despedidas são momentos de sofrimento dos grandes. Mesmo que na maior parte das vezes, representem o ponto de partida pra um novo encontro.
Quando eu parei minha primeira faculdade eu não me despedi de ninguém. Um dia fui, fiz prova, conversei, disse "até amanhã" e no outro não fui mais. Não sei porque fiz isso porque já sabia que não voltaria. Na minha formatura, chorei muito, porque eu sabia que ali era aquele ponto em que cada um desce e pega uma conexão para um lugar diferente. As pessoas ficam menos acessíveis quando precisam crescer.
O mesmo nó na garganta da infância se forma, o peito aperta, a ansiedade começa a tomar conta. Lidar com a saudade é difícil demais. E eu sempre preciso me readaptar. A gente que é sentimental não aprende como faz pra isso tudo ficar mais fácil. A saudade é burra.
Grão de Amor - Marisa Monte e Carlinhos Brown
Me deixe sim
Mas só se for
Pra ir ali
E pra voltar
Me deixe sim
Meu grão de amor
Mas nunca deixe
De me amar
Agora as noites são tão longas
No escuro eu penso em te encontrar
Me deixe só
Até a hora de voltar