a dona desse blog
é de uma teimosia absurda. além de ser psicóloga, é leitora, aspirante à escritora, filha, irmã, tia e amiga, é indecisa por natureza, não sabe fazer planos e deixa sua vida ser dominada por uma ansiedade que ela sempre achou que disfarçava bem. acha que todo dia é ideal pra questionar se suas ações estão certas, se está sendo justa consigo, se faz o que gosta (e por enquanto faz). é uma dessas pessoas que gosta da solidão da própria companhia mas não dispensa uma cervejinha com aquelas pessoas que sabem conversar, de preferência em um boteco bem boteco, porque estes servem as mais geladas.

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  terça-feira, 25 de junho de 2013
Sobre o projeto que deve sim ser chamado de "cura gay'

Em 2011, numa época em que eu ainda usava o twitter, uma amiga me falou pra eu dar uma olhada na página de uma psicóloga chamada Marisa Lobo. Entre uma bateção de boca  apropriada em uma pessoa com uns onze anos, li e reli vários posicionamentos equivocados. O primeiro deles dizia respeito  à apresentação: psicóloga cristã. Daí para frente, outras tantas colocações indevidas. Eu dei print em algumas delas e encaminhei uma denúncia formal ao Conselho Regional de Psicologia. Daí pra frente, não posso falar mais nada, porque trata-se de um processo ético no qual eu estou envolvida como denunciante.

É importante dizer que não sou a única. E claro que isso me alivia. É importante dizer também que não sou cristofóbica e nem anti-religiosa. Como a maioria das pessoas que eu conheço, fui criada cristã. Tenho um tipo de fé que me desafia sempre e hoje não me sinto ligada a nenhuma religião. Minha criação priorizou duas coisas: educação e honestidade. A religião vinha depois. 

Meus pais são extremamente conservadores. Admiro os dois apesar de, na maioria dos assuntos, ocuparmos posições muito diferentes. E admiro até pelo fato de eles me ouvirem e refletirem sobre minhas posições, coisa que, do meu lado, fiz também a vida toda. A verdade é que esses dois valores são responsáveis inclusive por eu ser de esquerda. 

Quando eu decidi fazer Psicologia, eu não tinha a menor ideia do que isso representava. Outro dia, eu falava para os meus alunos que, embora eu não pudesse dizer com certeza porque eu resolvi ser psicóloga, eu posso dizer porque eu concluí o curso e porque todos os dias eu continuo tendo a certeza de continuar sendo.

Um jeito de explicar isso é contando uma história. Eu dirigia em direção ao trabalho quando  me deparei com um homem, de talvez uns quarenta e poucos anos, muito alinhado. Terno cinza escuro, justo, parecia costurado nele. Sapatos de verniz brilhando tanto quanto os cabelos, sem um fio fora do lugar. Gravata fininha, colarinho duro, parecia que ia a uma festa. Eram oito horas da manhã e ele andava na rua como se estivesse em musical. Gesticulava e andava em passos largos, quase como se ali fosse um palco e os transeuntes, o público. E ele também falava, e a fala parecia articulada. Uma pena que eu não pude ouvi-lo. Ao passar por ele eu sorri.

E eu sempre sorrio quando vejo algo que é do humano e que demonstra a diferença dele. Sorrio quando vejo as soluções que as pessoas encontram para viver nesse mundo absurdo. Sorrio por causa dessa variedade maravilhosa. E isso, isso eu aprendi enquanto me tornava psicóloga. É isso que tento transmitir quando ensino. Porque como psicóloga, ocupo uma posição perigosa: eu sou professora.

Essa anedota me faz pensar na resolução 001/99 e do quanto ela é bonita. Foi na faculdade que desconstruí meus preconceitos em relação à homossexualidade e tantos outras coisas. Para muito além do "tenho até amigos que são", eu comecei a perceber que vivemos em mundo cheio de variedade. O bonito da resolução é que ela estabelece as normas que guiarão um psicólogo em relação a uma temática que ainda é alvo de muita malvadeza. 

Quando eu digo malvadeza é porque eu não consigo encontrar outra palavra para expressar o ato de oprimir e de subjugar o outro. Aliás, consigo: o nome dessa palavra é perversão. A segregação é uma forma grave de perversão. Há momentos  na história da humanidade em que outros atos de malvadeza, de natureza semelhante, foram perpetrados. A ciência foi conivente e fundamentou muitos deles. Com isso quero dizer que: uma vez que determinados paradigmas segregativos não existem mais, torna-se inaceitável alguém sem o menor aparato técnico e teórico dizer o contrário. Dizer, por exemplo, que não há definições quanto à natureza da homossexualidade e que novas investigações precisam ser feitas.

As resoluções que podem ser sustadas com o projeto de João Campos, projeto este que foi apresentado exclusivamente para proteger formados em Psicologia (aos quais me recuso a chamar de psicólogas e psicólogos) que reforçam o preconceito e a discriminação. 

Se chamar o projeto de "cura gay" é desonestidade intelectual, pare e pense. Mesmo você, pessoa tacanha, pense, por que retirar os seguintes artigos?

Art. 3° - os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça
a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva
tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.
Parágrafo único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e
serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.

Art. 4° - Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de
pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os
preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer
desordem psíquica


Você pode ser psicólogo e cristão, psicólogo e candomblecista, psicólogo e espírita, psicólogo e ateu. O que não pode é a sua visão de mundo religiosa ou anti-religiosa comprometer a liberdade do outro. Não é liberdade de expressão quando reforça preconceito. Deveria, inclusive, ser crime. Não é exercício profissional quando se coloca a fé no meio. Porque ter fé é crer no absurdo. E o absurdo não regulamenta a ciência.

Os objetivos por trás deste projeto podem ser agregados a partir de um termo: má-fé. E esta má-fé está sendo proferida pelos homens de fé. É um engodo em direção ao qual não podemos caminhar, porque o que encontraremos é o totalitarismo religioso. Não há um só exemplo de totalitarismo religioso que não tenha provocado morte, dor e sofrimento.

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  quinta-feira, 20 de junho de 2013
Sobre essa miscelânea

Das palavras que eu gosto porque se autotraduzem, miscelânea é uma das preferidas. O dicionário conta que ela indica mistura, variedade; coisas emaranhadas; obra composta por diversos autores. Até promiscuidade entra no sentido de miscelânea.

A impressão que eu tenho tido nas últimas semanas de manifestações é: que embora eles tenham se originado partindo de uma causa muito especifíca, à medida que cresceu, arrendou outros tantos manifestos, outras tantas reclamações. Eu fiquei muito admirada com o tamanho disso tudo, um tipo de surpresa boa, que você até demora para entender o que fazer em relação a isso, apesar de não demorar nada para perceber que há alguma coisa para ser feita. E essa alguma coisa é se posicionar.

Muito me espanta a apatia de alguns, mas nada me espanta a capacidade de desvirtuar de outros. Acho até que isso é próprio da miscelânea que as manifestações se tornaram. Não vejo isso como uma coisa negativa. Acredito sim que as pessoas entenderam que é preciso se manifestar para além das palavras e dos memes que nos afogam nessa vida light que o facebook oferece. Quando eu digo light, eu quero dizer de uma leveza que se torna insustentável se a gente estiver falando em uma sociedade participativa.

No meu último post, eu escrevi sobre a representatividade democrática de uma classe profissional que é a dos psicólogos. É que eu pude sentir na minha carne que o Conselho Federal de Psicologia é um grande partido político que exerce uma prática autoritária, que monopoliza as discussões e que passa por cima das contradições entre os posicionamentos como se não houvesse dúvida alguma quanto à inteireza dos seus atos e ideias.

Mas a representatividade de classe não é diferente da representatividade política. E claro que as eleições seriam o instrumento para a gente mudar isso, mas de verdade, não pode ser só esse. A questão que se coloca em torno do transporte público é tão grave que basta você passar um dia, das 18h às 20h na estação Paraíso para você entender que tem alguma coisa muito errada. 

Andei de trem, ônibus e metrô em São Paulo uma vez por semana durante três anos. Toda semana, em que eu me via espremida num vagão, em uma proximidade forçada, eu pensava: essas pessoas vivem isso todo dia. Como aguentam? Na primeira vez que eu fui a São Paulo, sozinha e jacu do mato, minha amiga que me ajudou nessa imersão me disse: quando você chegar na Sé você vai ver mais gente junta do que você já viu em toda a sua vida, não fique parada, não fique olhando pra cima. Ande na mesma direção que elas. Vai dar tudo certo. E deu. Mas eu nunca consegui esquecer da sensação de que tava errado.

Então, desde o começo, eu me posicionei a favor das manifestações, entendendo que não são vinte centavos, mas que são formas de conduzir. Eu fico meio sem esperança de vez em quando, porque ouço de gente que deveria ter mais senso crítico tendo pensamentos medievais. Não sei se todo mundo percebe isso, mas se não percebe tem que começar a olhar um pouco ao redor: o mundo mudou pra caramba. Isso é história, a sociedade é viva, se morta fosse, nem teríamos chegado até aqui.

Toda modificação causa conflitos, causa complicações. Até transformações internas causam revoltas e muitas destruições. Mas o ponto não é esse. O ponto é que me incomoda o quanto as pessoas são generalistas. E generalizar é uma das maiores burrices do ser humano.

Não me admiro nem um pouco que projetos abusivos como o ato médico e o da "cura gay" estejam tramitando. E se não me admiro é porque é da natureza do ser humano impor suas formas de gozo sobre o outro. Esse mal-estar não é novidade. O que é novidade é esse levante.

Ouvi de uma pessoa que ela não conseguia pensar em motivos para não estar na manifestação. Pois é. São muitos os descontentamentos. Mas faça uma gentileza, amigo reaça, continue atrás da suas causas. Não misture com as dos outros. Continue sendo pequenininho e burrinho lá onde todo mundo acha isso legal. Os manifestantes são gente coerente. Eles lutam todos os dias por causas que você detona. 

Por isso, o sentido de miscelânea que é a promiscuidade cabe aqui. De um lado estão os que repudiam todo o tipo de desigualdade, de opressão. O preço da passagem é uma forma de opressão, a situação do transporte público também. Mas existem várias outras e você faz parte disso. Por isso que você é promíscuo, amiguinho. Cada vez que enche o peito para falar baboseiras. São muitos os motivos da manifestação. Os válidos. Não entupa com os teus, porque essa palavra, promiscuidade, é tão feia, que foi feita pra falar em voz baixa. Fica em casa e exercite mais tua ignorância que ela não tem limites. Você nasceu pra ser gado.

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  sábado, 8 de junho de 2013
Sobre democracia representativa

Funciona assim: você passa a faculdade fugindo de todo e qualquer tipo de militância. Você não vê utilidade em centro acadêmico e DCE (a menos para quem faz parte de ambos) que vá além de conseguir dinheiro pra comprar uma mesa de sinuca, a doação de um sofá velho e paredes grafitadas. Você pensa que as solicitações costumam ser justas,  mas percebe elas não mudam de eleição para eleição. E aí você se torna reticente. Você começa a acreditar que tem que use a militância como profissão.

Ok. Minhas palavras são todas decorrentes de uma experiência, a minha. Não estou generalizando. Estou explicando a minha reticência em relação a posicionamentos políticos. Não precisa dizer que os movimentos conseguiram muita coisa que isso eu já sei.  Mas tem mais um menos um ano que eu resolvi abandonar a minha posição stand by en relação a isso.

Minha profissão tem um conselho e, como todos eles, sempre vai ser criticado por algum lado. Eu engrossava o coro do preço da anuidade, não entendia para que servia. Aí, um dia me convidaram pra participar, eu disse que sim e comecei. E isso tudo foi muito positivo por várias razões. 

A primeira é que eu entendi que custa dinheiro manter uma organização de uma classe profissional. Sabe quando você descobre o valor das coisas quando sai de casa e começa a pagar as contas com o seu dinheiro? Mais ou menos isso. Os psicólogos são extremamente individualistas em suas práticas e tem uma baita dificuldade de pensar na profissão como um todo, e a anuidade faz parte desse todo.

A segunda coisa que eu descobri é que poderia haver maneiras de o conselho ser mais afetivo, mais participativo e, especialmente, mais presente em um nível social. Pelo menos metade dos preconceitos em relação à minha profissão é fruto da ignorância. Sempre achei que o conselho precisa ser marqueteiro, mostrar o que é a Psicologia, em que consiste a profissão. Só isso ajudaria a aumentar a fiscalização em torno desses montes de psicólogos que me enchem de vergonha. Porque uma coisa que eu entendo é que as pessoas, em sua maioria, não sabem quando são atendidas indevidamente.

Finalmente, eu descobri que gostei. Gostei de participar das discussões porque aprendi bastante coisa. E eu gosto muito de me envolver com as pessoas e isso me aproximou bastante delas, então, olha que baita vantagem. 

Mas tem uma coisa que tem me incomodado nessa história e não só aos conselhos de classe, mas em geral: essa nossa democracia representativa é um problema. Explico: é muito difícil que os grupos que estejam nos representando consigam fazer o exercício de se destituir das individualidades e de posicionamentos previamente organizados e muito bem estruturados em grupos que excedem a gestão (bancadas religiosas estão aí para provar). Vamos pensar que, na sua casa, vocês votem para tomar decisões. E você gostaria muito de ter uma televisão no quarto. Aí, você se organiza externamente com seus irmãos e mãe e faz do seu pai um voto vencido. Mas é democrático, certo? Claro que sim. E em casa isso não dá muitos problemas porque as pessoas, vejam só, costumam se gostar.

Não é bem o que acontece nas nossas representações profissionais. Narcisismos individuais ou grupais, estruturas cristalizadas há décadas, relações de tutoria em que o mais velho ensina o mais novo a como se posicionar, enfim. Eu poderia citar algumas coisas. E essas coisas incomodam. E incomodam porque todos pagam pelas televisões no quarto.

Vamos pensar então que, em meu estado, uma determinada proposta, em nível regional, tivesse sido aprovada pelo grupo de delegados, dos quais eu fazia parte. Depois, eu fui eleita delegada para ir ao federal. Será que é muita ingenuidade minha pensar que se eles me elegeram e elegeram também aquela proposta, a minha obrigação não seria defendê-la? Não foi bem o que vi. O que eu vi, foi gente que viajou às custas do CRP e do CFP tomando posições de chapa.

Se eu tivesse que me posicionar politicamente hoje, seria pela mudança. Em nível regional e federal. Votem, gente. Votem.

OBS: Nem comento sobre gente que acha que viaja com tudo pago para sair fazer festa e não conseguir estar na hora certa nos lugares, fazendo a gente esperar formar quórum. Falta de educação tá cada vez mais cultural e cultuada.

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