a dona desse blog
é de uma teimosia absurda. além de ser psicóloga, é leitora, aspirante à escritora, filha, irmã, tia e amiga, é indecisa por natureza, não sabe fazer planos e deixa sua vida ser dominada por uma ansiedade que ela sempre achou que disfarçava bem. acha que todo dia é ideal pra questionar se suas ações estão certas, se está sendo justa consigo, se faz o que gosta (e por enquanto faz). é uma dessas pessoas que gosta da solidão da própria companhia mas não dispensa uma cervejinha com aquelas pessoas que sabem conversar, de preferência em um boteco bem boteco, porque estes servem as mais geladas.

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  quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Sobre o primeiro mês

"Mas três meses passam rápido". Essa é a frase que eu uso para tranquilizar as pessoas quando elas me perguntam onde eu estou morando e a resposta é: "ah, humm, então...". Esta é minha quarta semana nessa nova rotina que eu escolhi viver até o final do ano.

Para os interessados, explico: assumi como professora em um teste seletivo. Como não tinha garantias de que seria chamada esse ano, mantive o compromisso (comigo mesma) de que, caso fosse chamada antes, levaria os dois empregos até o final do ano. Aí você pode me perguntar o que tem de mais manter dois empregos, ainda mais que não é trabalho, né, é dar aula (risos, só que não). Mas é que são duas cidades separadas por uns cento e poucos quilômetros. E eu trabalho quatro dias em uma cidade e três na outra.

Então, é por causa disso que eu uso a frase tranquilizadora. Que também é um jeito de eu tranquilizar a mim mesma. E até que funciona, embora as pessoas fiquem confusas com a minha rotina que começa com eu saindo de carro cedinho para Irati na segunda feira. Roupa de cama, mala, livros, textos e um pouco de comida de emergência. Dou três aulas de manhã, faço meu horário de atendimento à tarde, tomo um banho e pego uma van pra Guarapuava. Dou quatro aulas, pego a van para voltar, durmo, dou aula terça o dia todo e aí, oba, sem viagens na terça. Descanso.

Quarta feira, aula de manhã, horários de atendimento, reunião de departamento. Van pra ir, quatro aulas, van pra voltar. Dormir. Quinta feira, atendimento, aula, carro carregado pra voltar, quatro aulas à noite. Sexta, sábado, domingo para descansar. Segunda, saio cedinho pra Irati. 

Uma amiga me disse que esse é meu normal, estranho é eu parar. Acho que ela tá certa, embora os dois últimos anos caseiros e enraizados tenham tido seus efeitos. Eu demoro pra chegar em um lugar, tomar posse dele. Essa experiência passei algumas vezes e olha, é difícil. É aquela procura por rostos conhecidos e familiaridades. É o conforto de uma casa que é mais que casa, é abrigo, consolo, cantinho mais gostoso.

Escolhi não me mudar esse ano. Escolhi gastar mais do que gastaria se encontrasse um apartamento pra alugar. Encontrei uma pensão na beira da rodovia, em frente ao novo trabalho, em que a rotina é curta, as distâncias breves e o cheiro de mato. Tenho colegas felinos com quem estabeleci um convívio aceitável. Um deles se chama Hitler (gato com mancha que parece bigode e outra que parece o cabelo repartido ao meio), o outro Fubá (ele é amarelo) e outro eu não lembro. Eles me encaram quando eu chego e, às vezes, se jogam contra a minha porta e eu me assusto. Fizeram xixi no guarda-chuva que deixei pra fora um dia.

Esses dias eu tava pensando sobre as coisas que eu imaginava que seria. Elas seguiram um rumo um pouco diferente do planejado. Quando eu lembro de mim antes, reconheço muitas coisas e muitas não. Quando penso no passado, ele me parece tão estranho que essa estranheza é a prova contundente das mudanças. Me reconheço no caminho que eu fiz, mas reconheço o que não é mais meu. E é boa a sensação.


Dois meses passam rápido.

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