E a vida segue. E eu, humana que sou, continuo me surpreendendo mais com seus maus aspectos do que com os bons. Nunca deixo de me surpreender com a falta, enquanto é fácil com que a presença passe sem que eu a note.
Não canso de me surpreender com o fato maluco de que, se antes as pessoas estavam ali, em um lugar onde podiam ser encontradas, de repente não estão mais. E quando algo ruim acontece, é um grande baque compreender que enxugar as lágrimas, vestir o sorriso e uma roupa bonita é o que resta de você.
Mas, será que é mesmo?
É verdade que a vida parece injusta, vez ou outra, mas e quanto às injustiças que a gente pratica com ela?
Talvez seja questão de olhar e enxergar que sim, você não teve o abraço que queria quando aquilo que era tão ruim te aconteceu. Mas você teve outros dez abraços, senão mais. Você teve passeio na praça, comida compartilhada. Você teve conversas que curaram parte das feridas, dessas conversas que te mostram que ainda existem coisas boas ali dentro, mesmo que você pareça esvaziado de si.
Você teve refeições que serviram como um abraço que você ganha com todo o amor. Você enfeitou seu dia com várias alegrias e sorrisos abertos. Você recebeu um e-mail, dois, três, quatro, cinco, vários. Um telefonema, dois, três, quatro, cinco, vários.
Mas aí vem a compreensão. Se não me surpreendo com todos esses que estendem a mão com delicadeza em minha direção é que o fato de com eles eu poder contar está consumado. É que com eles eu sempre pude, sempre vou. Não me surpreende porque, por mais que haja incertezas sobre as quais desmorono, existem as mãos que me puxam, debaixo do monte de sentimentos ruins. Como bombeiros que encontram vida nos escombros. Mãos que formam correntes imaginárias de afeto, de bom dia e de boa noite, de oração e de delicadeza. Correntes que ajudam os passos a voltarem a ser firmes.
Passos firmes e alma leve. Um não serve de nada sem o outro.