Ontem foi o dia em que meu passarinho voltou para o lugar dele. Eu que costumo ser inflexível, dura e exigente, mudei de lugar em casa uma coisa que, realmente, eu achava que ficava melhor ali. Mas é que se ele ficasse ali, ele iria quebrar e não seria culpa de ninguém. É que algumas pessoas não sabem direito o que fazer com as mãos e volta e meia derrubam as coisas.
Ninguém é desastrado porque quer. Parece que o corpo, braços, mãos, pés e pernas se movem antes, quase que num movimento de autonomia. Eu não sou desastrada. Eu sou cuidadosa, e por ser cuidadosa, me antecipo sempre.
Mas eu também sou controladora. E sempre quis, embora sem sucesso controlar algumas coisas. Nunca consegui controlar nem meus sentimentos e nem as minhas lágrimas. Os dois brotam e pronto. Nem me ouvem. Seria legal não chorar mais. Cortar o canal lacrimal para que as lágrimas escoem junto com o xixi. Seria ótimo ninguém perceber que a gente chora, que a gente sofre, que a gente é menos fodão do que gostaria de parecer.
Pois é. Em alguns momentos eu acho que seria. Mas aí eu penso que essa coisa toda de as lágrimas não estarem sob controle, e nem meus sentimentos, é uma brincadeirinha do destinho. Uma pegadinha para a control freak que eu sou. Quando eu entendi isso, entendi que colocar de lado alguma expectativas e cagações de regras quanto a quem eu quero perto de mim, era bom. Entendi que eu poderia mudar meus enfeites de lugar e muitas outras coisas.
E, quase ao mesmo tempo em que entendi isso, me vi podendo recolocar meus enfeites onde quer que eu quisesse, porque eles não correm mais o risco de irem ao chão. Muitos dos meus enfeites mudariam de lugar. Mas o coração sempre fica desprotegido. Volúvel aos desastres. E não há o que fazer nem o que dizer. Se não tem remédio, remedia-se por si só. Eu tirei o passarinho e evitei que ele fosse quebrado. Mas o coração eu não podia tirar, ele ficou ali e poderia quebrar desde sempre. Quebrou. E não pode ser culpa de ninguém.