Nunca é difícil quando as pessoas que nunca estiveram, de repente estão. O contrário não é assim. Mais difícil do que lidar com um adeus é ter que encarar o fato que ali agora resta um vazio. Uma clareira.
Sabe, não é a primeira vez que esse vazio se abre. Mas saber disso não torna mais fácil, só ajuda conhecer o processo. Processo que começa com imensa desolação. Será que eu vou dar conta? Será que vou acostumar com a ausência? Será?
Insira nesta lista uma infinidade de 'serás'. Todos inúteis para um coração que se aperta com um mínimo reconhecimento de que o mundo gira, a despeito dessas dores inúteis, as da alma.
Eu choro. E não choro acreditando que isso passe. Choro porque cada despedida marca o fim de um companheirismo diferente. É uma feridinha que se abre e fecha. Mas quando ela fechar, a pele não vai ficar igual era antes. Depende da profundidade do corte.
Às vezes, exige pontos, deixa cicatrizes mesmo. E quando essa cicatriz se transforma em um queloide, é sinal que o tranco não foi pequeno. Às vezes, fecha sozinha, mas deixa um buraco. Uma região da pele que afunda. Você sente a marca quando passa o dedo e às vezes algum desavisado pergunta a respeito. Nessas situações, a gente conta a história do tombo. Pode até rir e dizer que não lembra se doeu ou não.
Mas o esfolado pode ser leve e, depois de cicatrizar, só ficar uma mancha branca que se você cuidar direitinho, com o tempo vai sair de vez. Pode parecer que esse é o melhor tipo de cicatriz. Mas eu não concordo. Que graça tem não lembrar dos tombos? Eu espero de verdade que dessa minha dor aqui, dessa feridinha que eu mesma ajudo a cutucar hora ou outra, reste alguma coisa. É porque o tamanho do tombo indica o quão alto a gente foi. E eu me orgulho bastante desse meu jeito destemido de subir.