Eu tinha uns 12 ou 13 anos, eu acho, quando me interessei por Beatles. É bem pouco provável que com essa idade eu nunca antes tivesse ouvido qualquer música deles. Minha irmã tinha um namorado que gostava muito. Um dia, ele levou um cd pra escutar lá em casa e eu ouvi e gostei. Ele trouxe todos os cds dos Beatles que tinha e falou pra eu ouvir e fazer uma seleção do que eu gostava mais e ele gravou uma fita pra mim (velhos tempos).
A tal da seleção dos treze anos incluía praticamente só as baladinhas românticas. All my loving e She loves you, Help, Yesterday e Let it be. Eu não lembro das outras, mas fiquei chateada quando a minha irmã deu um sumiço na fita quando o namoro terminou. Mais ou menos na mesma época, eu descobri que o namorado da minha outra irmã tinha Anthology 1, e eu peguei pra mim assim que ouvi as primeiras batidas de Free as a bird.
Quando eu já tinha uns 15, 16 anos, assisti I am Sam e conheci outra fase dos Beatles que me encantou demais. Versões de Blackbird, I'm looking through you, Across the universe e muitas outras. Não tem como não gostar da trilha sonora desse filme. E claro que continuei ouvindo Beatles e uma hora eu gostava mais de uma música, outra hora mais de outra. Na faculdade, ouvia alto no carro Back in the USSR, Here comes de sun e Hello Goodbye.
Eu poderia lembrar de tantos momentos que Beatles me ajudou a ficar mais feliz. Afinal, You and I have memories longer that the road that stretches out ahead.
Eu não tinha planos de ver Paul Mccartney. Não tinha me preparado, não vi quando os ingressos começaram a ser vendidos e pensei que eles seriam caros demais e eu pobre demais. Por isso que esse ingresso foi um dos melhores presentes. E só me dei conta disso quando cheguei lá. As minhas pernas estão doendo até agora, . Well, I didn't know what I would find there.
Acho que música boa é a que faz a gente entrar em contato com o que tem de mais íntimo. São aquelas horas que você olha pra dentro e vê. E as músicas dos Beatles sempre fizeram isso, many times I've been alone and many times I've cried, anyway you'll never know, the many ways I've tried.
Lá no show quando olhei ao redor, besta, percebi que muita gente filmava músicas inteiras. Teve um cara perto de mim que filmou o show inteiro. Acho que as pessoas têm medo de esquecer. Eu também tenho e por isso escrevo, mas rever as músicas nos vídeos no youtube não me aproxima da noite de ontem. Acho que por causa disso que shows são especiais, insubstituíveis e o que quer que a gente tenha sentido na hora, não volta. As dores físicas tem a ver com isso também.
Sabe, quando eu cresci, comecei a gostar muito, muito, muito de Blackbird. Eu disse pra algumas amigas que estava indo para o show só por causa dela. Sempre que tô triste com a vida e duvidando de que é bom, os versos me vêm à cabeça: Blackbird singing in the dead of night, take these broken wings and learn to fly. Todo mundo tá aqui tentando voar com asas quebradas.
E quando o Paul tocou All my loving, eu era aquela menininha de treze anos que começou a gostar de Beatles por causa das musiquinhas de amor: All my loving, I will send to you, all my loving, darling, I'll be true. E, apesar de eu ter crescido e de ter começado a gostar mais de outras músicas, continuo acreditando que ser verdadeiro no amor é essencial. Mas depois que a gente cresce, aprende que às vezes gosta das pessoas e elas vão embora, e elas podem ir embora mesmo estando aqui do lado. But I still remember how it was before, and I'm holding back the tears no more. E eu não segurei as minhas quando ouvi as minhas músicas queridas tocadas por um Beatle, inesquecível.
Hoje fiquei pensando que fotografar e filmar tem a ver com a solidão. E a gente gostaria de mostrar pros amigos como foi legal, e com certeza a gente falha nisso. É que a gente é sozinho. E é disso que a gente trata, solidão: All the lonely people, where do they all belong? Eu acho que todas as pessoas pertencem à solidão. Cada um sabe onde habita a sua e tenta preenchê-la com tanta coisa, né?
Obladi, oblada, life goes on. E eu continuo acordando, estudando, trabalhando e agora, por uns dias, com o coração um tantinho mais leve, taking a sad song and making it better, pensando sobre uma grande verdade com que Paul McCartney encerrou o show: the love you take is equal to the love you make.