Sabe que ontem, depois que minhas amigas foram embora, lavei a louça, arrumei tudo e fui deitar no sofá. Meu pai assistia ao Fantástico e eu fiquei rindo com ele dos pernas de pau que mandam vídeos de suas peladas de fim de semana para serem tristemente comentadas. Quando ele foi dormir, mudei de canal e tive uma dessas surpresas que só sente quem tem filme preferido.
Como tenho alguns, e como é muito minha essa coisa de assistir filmes vezes sem conta (e que o diga "Dez coisas que eu odeio em você"), não são raras as vezes em que paro o que estou fazendo para uma história que não sem razão foi importante. Esse filme que me fez parar domingo à noite, não entrar na internet, não ir dormir, não ir ler um livro, enfim, não procurar coisa melhor, foi "Peixe Grande".
Já falei sobre como me comove o gesto de roubar os sapatos de quem chega, como se assim fosse possível segurar por perto quem a gente gosta (como se não desse para ir embora descalço, sem roupa, sem nada, quando existe desejo). Já falei sobre a condição de olhar para vida a partir de toda a grandiosidade que ela pode alcançar e não da dificuldade em sonhar mais. Já falei do quanto, desde criança, sou fascinada por tudo o que é inventivo e mágico. E tem tanta magia em tirar grandes histórias das mesmices de sempre.
Bom, pensei nisso tudo mais uma vez, mas também em outras coisas. Como sempre, chorei no fim, e especialmente dessa vez, olhei pra esse fim mais de perto. E olhei porque tinham acabado de deixar a minha casa pessoas que realmente importam muito. E chorei porque eu estava em casa num dia em que realmente precisei estar lá, mesmo estando com preguiça da viagem, mesmo achando mais cômodo passar o fim de semana aqui em Curitiba. Eu havia decidido não ir, e muito de repente, mudei de idéia, fiz uma mala em dois minutos e fui.
E que fim de semana bom. Bom para dormir, bom para sair, conversar, olhar fotografias, contar histórias, ouvi-las. Sentar com o pai e a mãe e tomar chimarrão no fim de tarde, tomar de novo pela manhã. Deitar no sofá com a Lola no colo, dengosa, fofa, querida, com todo aquele carinho gratuito. Dormir na cama da minha infância, com edredon de bailarina e cortina de babado. Poder saber que as minhas histórias têm a graça que têm por causa disso tudo, por causa deles todos.
Hoje eu tive uma notícia atordoante e maravilhosa que me deixou literalmente tonta. E me deixou tonta porque o filme de uma vida toda veio à cabeça em turbilhão. E como são muitas histórias, como é muita coisa compartilhada, é louco, mas também é lindo. As histórias continuam andando e que bom que é saber quem a gente tem: as nossas pessoas. Todas muito importantes e que me ajudam a continuar a história sempre, praticamente adivinhando, prevendo e acolhendo o que acontece depois. Ainda bem que eles existem.